Artista: Vários
Evento: Fortaleza Extreme Festival
Cidade/Estado/País: Fortaleza – Brasil
Local: Baladinha Club
Data: 31 de Março
Ano: 2024
Produtora: M2F Produções
Eu sempre respeitei a vida e obra de Paul Speckmann, músico que ganhou notoriedade na cena mundial após ter fundado o Master, em 1983. Poder acompanhar a ascensão rápida da banda, que foi ganhando cada vez mais espaço no underground norte-americano nas décadas seguintes, com os sucessivos lançamentos de ótimos álbuns, foi um verdadeiro privilégio.
Desde os anos noventa, então, acompanho a trajetória do cara e já pude vê-lo pessoalmente no ano de 2009, na cidade de Salvador, ao lado das bandas Incrust, Predator, Behavior e After Death. Naquela ocasião, presenciei uma aula e tanto de Death/Thrash Metal, aproveitando cada segundo dos ensinamentos do velho Paul, como se fossem os últimos (na verdade, achei que fossem mesmo). Todavia, quinze anos mais tarde, eu acabei tendo a chance de um providencial reencontro com o Master, desta feita na capital cearense.
Quando tomei conhecimento do anúncio da inclusão do Master no Fortaleza Extreme Festival, que ocorreu no dia 31 de março de 2024, não pensei duas vezes e comprei a minha passagem. Além da presença de Mr. Speckmann, de quebra pude conferir de perto outras apresentações muito interessantes, como a dos colombianos do Bloody Nightmare e dos brasileiros Krisiun, Paradise in Flames, Desalmado, Losna, Escarnium, Visceral Suffering, Necrofilosophy e Damn Youth.
Com um clima bem ameno para o esperado, incluindo aí um céu parcialmente nublado em pleno dia de finados, me desloquei para o Baladinha Club, local onde o evento aconteceu. Fiquei pouco tempo aguardando a bilheteria liberar a minha entrada, para na sequência ir direto conferir toda a estrutura montada para o festival. A casa me surpreendeu positivamente, possuindo tanto um espaço coberto quanto ao ar livre e um palco que abrigou, confortavelmente, todas as bandas que por ele passaram naquela tarde/noite. Duas lanchonetes instaladas com cardápios bem variados, banheiros limpos e de fácil acessibilidade, além de várias mesas de merchan com os mais diversos produtos disponíveis para o público. Ou seja, a estrutura estava bem acima da média, para o que estamos acostumados aqui no nordeste.
O meu otimismo estava cristalino até ali e, felizmente, quando a Damn Youth iniciou o seu set pude constatar que o backline estava funcional também, permitindo que todos que ali estavam pudessem ouvir tudo com muita qualidade. Quando os cearenses deram o pontapé inicial, ainda tinha poucas pessoas presentes, o que foi uma pena, pois eles foram extremamente profissionais ao apresentarem o seu Thrash Metal com pitadas de Crossover. O quarteto ainda estava promovendo o seu segundo álbum, “Descends into Disorder” (2023), então o foco acabou sendo ele com músicas como “Your Leader Will Fall” e a faixa título.
Com a saída da Damn Youth, os também cearenses do Necrofilosophy chegaram chutando a porta com o seu Death Metal. Apresentando composições do seu debut “Contemplations of the Seven Philosophical Foundations” (2022), os caras puderam tocar para um número melhor de pessoas, ainda que longe do que mereciam pela qualidade que impuseram em cena. Das sete faixas do seu full lenght, seis foram executadas e as que obtiveram melhor resposta da plateia foram “Indoctrination’s Desires” e “Mastery of Occult Mysteries”.
No geral os shows estavam sendo bem curtinhos e as trocas entre as bandas, ocorrendo de maneira muito dinâmica. E foi dentro deste andamento favorável que a gaúcha Losna subiu ao palco, com muita personalidade e simpatia, principalmente por parte das irmãs Fernanda Gomes (baixo e vocais) e Débora Gomes (guitarra e vocais). O power trio já está na ativa desde 1997 destilando o seu Thrash Metal, tendo lançado três álbuns, o último deles “Absinthic Wrangles” (2020). Além de algumas músicas deste, o Single “Carmilla”, disponibilizado em 2024, foi o principal atrativo do show, além de um solo inusitado de tambor, do baterista Mateus Michelon.
A Visceral Suffering veio na sequência com o seu Brutal Death Metal, tendo como base para o setlist o seu debut “Sons of Evil” (2020), além da apresentação de duas novas músicas “Hecatombe” e “Catharsis”, ambas mantendo a linha agressiva demonstrada no full lenght. Impressionante foi ver que os caras já têm uma fan base cativa na sua cidade natal, o que acabou por colaborar para que a energia ficasse em alta durante toda a sua participação on stage. O vocalista Satoshi Alisson chamou muito a minha atenção, compensando a sua falta de versatilidade com um gutural bem encorpado, acabou por agregar muito ao fator peso que “Detoxifying” e “Requiem of Death” exigiam. Excelente performance!
Naquela altura eu já estava muito cansado, então fui dar uma volta e gastar bastante grana na área reservada para o merchandising. Foi ali que pude trocar uma ideia com a guitarrista da Losna Débora Gomes, que me falou um pouco sobre as novidades da cena porto-alegrense e ainda me presenteou com uma cópia em CD de “Absinthic Wrangles”. Além dela, pude encontrar os meus velhos amigos da Escarnium e com o próprio Paul Speckmann que me relatou sobre a felicidade de estar novamente no nosso país. O coroa também parecia muito cansado, então me despedi e fui novamente para a área coberta conferir o Desalmado.
Promovendo o seu recém lançado EP “Inquisition”, o Desalmado despejou o seu Grindcore com toda força no público, sempre muito bem conduzido pelo líder e vocalista Caio Augustus, que não se furtou do seu espaço para proferir mensagens políticas. Em “Esmague os Fascistas”, apenas para citar um exemplo, o músico gritou em alto e bom som que “Bolsonaristas têm que ser derrotados nas ruas”, o que acabou por receber apoio de uma boa parcela dos presentes. Particularmente não gosto de mesclar política com arte, mas respeito quem o faz, desde que seja feito com cuidado e responsabilidade. Fica aqui a minha crítica, mas nada que abone o lado musical dos caras, que em nenhum momento deixou a desejar. Outros destaques ficaram por conta de “Preço da Liberdade” e “Manto de Sangue”, antes da sua despedida com “Camiño Sin Vuelta Del Inferno”.
A mineira Paradise in Flames era uma das atrações que eu mais aguardava ansioso. O quinteto foi o último a ser inserido na programação do festival, quando todos já davam a line-up como fechada. Para minha felicidade, a toque de caixa, foi incluso para nos presentear com o seu Black Metal Sinfônico, que mescla vocais femininos (líricos) e masculinos bem naquele direcionamento gótico do Cradle of Filth. E não decepcionou, em absoluto! A banda priorizou o seu novo álbum “Blindness” (2024), então não tinha como ser diferente que as inéditas “Concerto No.6 in C Minor, Cold Spring”, “Black Wings” e “Bringer of Disease” tenham ganho a minha atenção, até pela curiosidade que a trinca me gerou. Contudo, o som não foi tão favorável aqui! Por alguma razão, a altura do microfone da vocalista O. Mortis atrapalhou a minha experiência, tirando um pouco da imersão. O problema foi tão grave, que em determinado momento, ficou aquela impressão que era um playback rolando e que a cantora estava apenas dublando as suas partes. Uma pena, mas infelizmente aconteceu de fato. O grupo finalizou com “Endless Night Battle”, novamente de “Blindness”, e se despediu dos fãs cearenses deixando uma boa impressão apesar dos problemas técnicos.
Os colombianos do Bloody Nightmare chegaram com muito atraso no Baladinha Club, então o seu set foi muito encurtado. O motivo alegado foi que, como estavam em turnê pelo país, demoraram para chegar ao compromisso com o público do Ceará. Desta forma, só conseguiram apresentar cinco canções, além da introdução “Helix” pertencente ao seu último álbum “Pillars of Chaos” (2023). Então, o que eu posso falar sobre os garotos da Bloody Nightmare? Os moleques praticam um Speed Metal repleto de melodias, convincente, mas calcado na antiga escola dos anos oitenta. Nada de novo, não é mesmo?! Porém, competente e bem estruturado, como estampado nas ótimas “Nightriders” e “Possessed by War”. Show curto, mas agradou aos saudosistas de plantão, da década dita como a mais romântica do movimento underground.
A maratona prosseguiu com a soteropolitana Escarnium. Como foi legal poder rever os caras, depois de tantos anos! Eu pude acompanhar o nascimento da banda em Salvador, desde a fase da Demo “Covered in Decadence” (2009), então poder constatar que estão se dando muito bem no mercado europeu, me encheu de alegria e satisfação. Eu conheço absolutamente toda a sua discografia, então estava animado para poder conferir pessoalmente as novas músicas de “Dysthymia” (2022), além de algumas cartas marcadas que não podem faltar em nenhuma das suas aparições, como “Far Beyond Primitive”. Infelizmente o seu debut “Excruciating Existence” (2012) foi completamente deixado de lado, acredito que pela curta duração reservada aos caras naquela oportunidade, mas vai saber?! Começaram com “Inglorious Demise” de “Dysthymia”, demonstrando logo de cara que o seu Death Metal está revigorado, mas sem que ele renegue as suas raízes mais sujas e primitivas. Do novo álbum ainda tivemos a faixa título e “Deluged in Miasma”, além de “Interitus”, carro chefe do seu segundo full lenght de mesmo nome. Intenso do início ao fim, este foi o principal adjetivo que encontrei para descrever o curto setlist dos baianos.
Não tardou muito para que Paul Speckmann (baixo e vocais), Alex “93” Nejezchleba (guitarra) e Peter Bajci (bateria) assumissem a responsabilidade de encarar os seus fãs, que esperaram muitas horas por aquele momento. Como mencionei no início desse texto, sou um grande fã do Master e alguns dos seus álbuns marcaram uma fase importante da minha vida, entre eles posso destacar o debut “Master” (1990) e, principalmente, “On the Seventh Day God Created… Master” (1991). Dito isto, caro leitor, você pode então entender o tamanho da minha felicidade de poder rever o senhor Speckmann em ação. Apesar de terem sido apenas oito músicas apresentadas, em quase quarenta minutos de duração, pude curtir cada detalhe de uma atuação impecável. Crua e direta, como tem que ser um show do Master, diga-se! O trio deu o start com “Pledge of Allegiance” e “Terrorizer”, faixas de abertura do já mencionado “Master”, e na sequência partiu para “Judgement of will” e “Submerged in Sin”, ambas do também referenciado “On the Seventh Day God Created… Master”. Preciso dizer que a banda estava jogando em território seguro?! Não, né?! Iniciar com quatro músicas de dois dos seus principais trabalhos, foi uma decisão mais do que acertada.
Paul Speckmann pouco se comunicou conosco e, em uma das poucas situações, foi justamente para reclamar do responsável pela iluminação do palco. O “vovô” não estava conseguindo ler o guia das músicas que estava no chão, logo em frente ao seu retorno, e isso o deixou extremamente chateado. Respeitado o momento indigesto, retornou com mais quatro do seu primeiro registro discográfico, “Unknown Soldier”, “Funeral Bitch”, “Re-entry and Destruction” e “Pay to Die!”. Trocando em miúdos, o cara descartou toda a sua vasta discografia, para poder se manter na sua zona de conforto. Agradou?! Agradou, sim! Contudo, senti algumas pessoas frustradas, por não ter absolutamente nada de álbuns como “Faith is in Season” (1998) e do recém lançado “Saints Dispelled” (2024). Devo admitir que me incluo neste grupo de fãs, porque eu preferia ter visto um repertório mais diversificado, mas vai ficar para uma próxima oportunidade.
Com as minhas forças já na reserva, segui em frente para poder prestar o meu apoio incondicional aos gigantes do Death Metal brasileiro, Krisiun. Com uma lista de canções escolhidas a dedo para a atual turnê mundial, os gaúchos começaram cortando cabeças com a clássica “Kings of Killing” de “Apocalyptic Revelation” (1998), seguida de “Sweet Revenge” do álbum “AssassiNation” (2006) e “Swords into Flesh” do mais recente “Mortem Solis” (2022). Naquela altura o trio já tinha os sobreviventes, que ainda estavam no recinto, nas suas mãos. Incrível como os caras têm bastante carisma, mesmo executando um estilo tão agressivo. Alex Camargo interagiu muito com todos e, em uma das ocasiões, agradeceu ao povo de Fortaleza por ter ajudado a “chutar a bunda de Bolsonaro da presidência da república”. Mais um discurso de teor político, que em nada acrescenta, apenas segrega, mas aí é uma opinião única e de exclusividade minha.
O show continuou com a já habitual sensação que um rolo compressor passou por cima das nossas cabeças e, sem qualquer cerimônia, despejaram a trinca “Scourge of the Enthroned”, “Necronomical” e “Vengance’s Revelation”, com destaque para a última que teve grande participação de vários bangers no mosh pit. Realmente, lindo de ver a força do público do Krisiun, mesmo tendo passado por um dia extremamente desgastante e cansativo. Ao também demonstrar ter essa percepção, Alex agradecia por todos ainda estarem ali, em cada um dos intervalos! A troca entre banda e fãs é o que faz o show desses caras ser algo tão especial, preciso pontuar. Ao final, após a conclusão de “Descending Abomination” de “The Great Execution” (2011), emendaram com “Ace of Spades” do Motörhead. Bacana foi poder observar a inserção de novos arranjos nela, dentro de uma roupagem mais extrema, obviamente.
Quando ainda me sentia em êxtase com “Ace of Spades”, os irmãos Kolesne se despediam de todos, prometendo um breve retorno para o nosso querido e amado nordeste. Só me restou recuperar o fôlego e pensar um pouco a respeito sobre o saldo desta minha passagem por Fortaleza. Foi muito enriquecedor poder conhecer os trabalhos de bandas como Damn Youth, Necrofilosophy e Visceral Suffering. Todas elas demonstrando a força que o Ceará tem, quando o assunto é Metal Extremo. A Losna, Escarnium e Paradise in Flames apenas reafirmaram a impressão prévia que eu tinha das três, mesmo com os problemas enfrentados pelos mineiros, e que foram destacados por mim neste texto. Já os headliners, Krisiun e Master, se impuseram como atrações principais sem deixar qualquer margem para discussões nesta esfera. Entretanto, reafirmo que gostaria de ter visto o Master ousar mais, englobando músicas de outras fases da sua prolífica e longeva carreira. Então, posso afirmar que o saldo foi positivo?! Pode apostar que sim, amigo leitor!
Damn Youth Setlist:
Não informado pela produção.
Necrofilosophy Setilist:
01. The Elder Serpent Metaphor
02. Indoctrination’s Desires
03. Mastery of Occult Mysteries
04. Eternal Whispering Melody
05. Pendol of Polarity
06. The Dual War in a Closed Circle
Losna Setlist:
01. Street Fighters
02. After The Kuarup
03. Constellation Drama
04. Nosferatu
05. En Garde
06. Belike Through Pain
07. Catch-As-Catch-Can
08. Carmilla
09. Mateus Michelon (solo)
10. Slowness
Visceral Suffering Setlist:
01. Emissary
02. Dissecting
03. Sons of Aécio
04. Hecatombe
05. Carthasis
06. Detoxifying
07. Requiem of Death
Desalmado Setlist:
01. Privilege Walls
02. Hidra
03. Unity
04. Preço da Liberdade
05. O Pavor do Estado
06. Esmague os Fascistas
07. Manto de Sangue
08. Blessed by Money
09. Praise the Lord and Kill People
10. Hollow
11. Across the Land
12. Your God, Your Dictator
13. Bridges to a New Dawn
14. Camiño Sin Vuelta Del Inferno
Paradise in Flames Setlist:
01. Desolate World (instrumental)
02. Concerto No.6 in C Minor, Cold Spring
03. Unseen God
04. Black Wings
05. The Way to the Pentagram
06. Old Ritual to an Ancient Curse
07. Bringer of Disease
08. I Feel the Plague
09. Last Breath
10. Age of Death
11. Angels & Devils
12. Endless Night Battle
Bloody Nightmare Setlist:
01. Hellix
02. Nightriders
03. Possessed by War
04. Midnight Legión
05. Full Speed Vengeance
06. Pillars of Chaos
Escarnium Setlist:
01. Intro
02. Inglorious Demise
03. Far Beyond Primitive
04. Deluged in Miasma
05. Pyrocenes Might
06. Interitus
07. Dysthymia
Master Setlist:
01. Pledge of Allegiance
02. Terrorizer
03. Judgement of Will
04. Submerged in Sin
05. Unknown Soldier
06. Funeral Bitch
07. Re-entry and Destruction
08. Pay to Die!
Krisiun Setlist:
01. Intro
02. Kings of Killing
03. Sweet Revenge
04. Swords into Flesh
05. Scourge of the Enthroned
06. Necronomical
07. Vengance’s Revelation
08. Serpent Messiah
09. Combustion Inferno
10. Descending Abomination
11. Ace of Spades (Motörhead cover)
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