Angra – Reaching Horizons
Postado em 11/07/1992


Artista: Angra
País: Brasil
Álbum: Reaching Horizons
Gravadora: Independente
Licenciamento: Indisponível
Versão: Compact Disc
Ano de Lançamento: 1992

A banda ANGRA é uma das formações brasileiras fundamentais, para o desenvolvimento e profissionalização do que hoje conhecemos como “Cena do Metal Nacional”. Goste você ou não do Power Metal étnico proposto pelos caras, a sua importância para o segmento é um fato inquestionável. O grupo, desde o seu alicerce, serviu para reintroduzir Andre Matos no jogo, ex-vocalista do Viper e que havia se ausentado na época, para se concentrar na sua formação acadêmica de composição e regência, o que veio a se concretizar anos depois.

Como mencionado no parágrafo anterior, a presença de Andre Matos foi um dos fatores que causaram ansiedade e curiosidade por parte dos fãs e imprensa. O músico já ostentava prestígio no país e nos mercados europeu e asiático, principalmente por ter conduzido de forma ímpar o álbum “Theatre of Fate” (1989), do já citado Viper. Então, desta forma, ao mesmo tempo que o ANGRA vinha com a sua assinatura própria, a banda precisava se provar como marca, se sobressaindo ao enorme peso que o seu cantor trazia consigo.

De fato, quando me deparei com a Demo “Reaching Horizons”, o projeto me foi apresentado como a nova banda do ex-vocalista do Viper. Então, incontestavelmente, o ANGRA precisava se provar como um time, e não apenas como uma empreitada solo de Andre. Felizmente, isso não demorou para acontecer, porque o plantel era muito bom e o guitarrista e compositor Rafael Bittencourt, já demonstrava ser um músico diferenciado e à frente do seu tempo, mas isso mencionarei mais adiante.

“Reaching Horizons” foi registrada no mês de julho de 1992, no já extinto Guidon Studios, em uma mesa compacta de vinte e quatro canais. Originalmente, o material contou com seis faixas, dispostas nos dois lados do seu formato K7. Desta forma, no lado A foram apresentadas “Evil Warning”, “Time” e a faixa título. Já no lado B se fizeram presentes “Carry On”, “Queen of the Night” e “Angels Cry”. Anos mais tarde foi relançada em formato CD na Europa, contando com alguns bonus tracks muito interessantes, fotos inéditas e uma disposição mais adequada da sua track list. E é justamente esta versão em compact disc que irei me ater para a produção deste texto.

Andre Matos era o grande nome daquela formação, e era cercado pelos até então desconhecidos Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro, Luís Mariutti e Marco Antunes. Mas engana-se quem pensa que Andre foi o idealizador direto, pelo conceito de inserir elementos da música brasileira ao Power Metal tipicamente europeu. O responsável pelo amálgama que tornou o ANGRA uma referência desde a sua base, atende pelo nome de Rafael Bittencourt. Inclusive, Rafael e Andre se formaram juntos, e ambos sempre foram exímios compositores. Dito isto, após algumas audições desta Demo, pude enxergar claramente que a união dos elementos de música clássica/erudita trazidas pelo Andre, a técnica apurada de Kiko Loureiro, e o conceito visionário de Rafael, foram o epicentro para que a banda se destacasse.

A produção de “Reaching Horizons” contou com a assinatura de Fernando Costa, mas sempre acompanhada de perto pelos músicos. Para os padrões da época, o resultado foi animador e estava acima de absolutamente tudo que era lançado no país. Então sim, para um cartão de visitas de luxo, como forma de introduzir o ANGRA no mercado, o objetivo foi alcançado com louvor. Mas vamos ao que interessa, então daqui para a frente falarei exclusivamente das nove faixas do CD.

A bolachinha abre com “Carry On”, música cem por cento de Andre, e que aqui é apresentada com novas linhas de voz, principalmente no seu refrão. Para quem teve contato com a Demo original, causou certa estranheza ouvir essa aqui e, ainda por cima, abrindo o disco. Particularmente, fico com a original e achei uma decisão equivocada essa faixa “alternativa” não ficar para o final, podendo, inclusive, ser creditada como bônus. Mas enfim, vai saber…

“Queen of the Night” é a seguinte e conta com uma pegada mais Rock, com elementos de Progressivo, inclusive, é nela que vemos o lado étnico do ANGRA mostrar as caras, com um bem vindo grand finale do baterista Marco Antunes, ao se propor a inserir arranjos de Samba na composição. “Angels Cry” segue por um caminho mais voltado para o Power/Prog Metal, sendo também a faixa mais complexa e variada de toda a obra. Nela temos a vertente erudita de Matos em evidência, que ganha amparo nos arranjos de cordas extremamente refinados, dos guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt.

Outro destaque na Demo é a forma como a banda trata as músicas mais comerciais, comumente chamadas de “baladas” pelo público. Neste quesito, “Time” e a faixa título cumprem muito bem os seus respectivos papéis, com belíssimas linhas de voz de Matos. Particularmente, prefiro o lado mais dramático da segunda, se comparado à suavidade linear da primeira. Ambas são bem diferentes e, arisco-me a dizer que até se complementam.

“Reching Horizons” ainda reservava algumas surpresas, como a versão Speed Metal da improvável “Wuthering Heights”, da cantora inglesa Kate Bush, além da versão original de “Carry On”, da Power/Prog/Étnica “Evil Warning” e a descartável “Don’t Despair”. Esta última poderia ter ficado de fora, por simplesmente destoar das demais, com uma estrutura pseudo Rock N’Roll que não empolga.

O pontapé inicial do ANGRA colocou o sarrafo nas alturas. O que pude acompanhar foi um maior esmero da concorrência, para conseguir se manter no game, na cola do grupo paulista. A partir da aceitação deste registro, por parte dos fãs e mídia especializada, o que se viu foi um exponencial crescimento da marca e que culminou na sua disseminação no mercado internacional. Naquele período da história, o que se viu foi o surgimento de um companheiro do Sepultura, na importante tarefa de levar a bandeira do Brasil além mar.

Formação:

Andre Matos (vocalista, tecladista)
Rafael Bittencourt (guitarrista)
Kiko Loureiro (guitarrista)
Luís Mariutti (contrabaixista)
Marco Antunes (baterista)

Tracklist:

01. Carry On (original version with alternate chorus)
02. Queen of the Night
03. Angels Cry
04. Time
05. Evil Warning
06. Reaching Horizons
07. Carry On (demo version)
08. Don’t Despair
09. Wuthering Heights (speed version)

 
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