Artista: Rotting Christ (Grécia)
Evento: Pro Xristou Over Brazil 2025
Cidade/Estado/País: Fortaleza – Brasil
Local: Complexo Armazém
Data: 15 de Fevereiro
Ano: 2025
Produtora: Estética Torta
A minha história com o ROTTING CHRIST me remete ao saudoso ano de 1996, quando me foi apresentado o clássico “Triarchy of the Lost Lovers”, lançado na mesma época. O Black Metal diversificado, melodioso e extremamente criativo proposto pelo genial Sakis Tolis (vocalista, guitarrista), quebrou alguns paradigmas daquele jovem banger, ávido por conhecer novas sonoridades.
Foi então que, com a disponibilização de “A Dead Poem” (1997) e com o memorável show em seu suporte, ocorrido na cidade de Salvador (BA) um ano mais tarde, foi que a minha devoção pelos gregos se solidificou. Lançamento após lançamento, ano após ano, eu não me furtava de acompanhar todos os seus passos, até chegarmos neste 2025 com a confirmação de uma nova turnê pelo Brasil.
Quando tomei conhecimento das datas, me programei para viajar para Fortaleza, local mais próximo onde resido atualmente e que me proporcionaria um ótimo custo benefício. O evento foi realizado no dia 15 de fevereiro, no Complexo Armazém, local já conhecido por mim e que anos antes abrigou o show do Cannibal Corpse, que na ocasião estava promovendo o ótimo “Violence Unimagined” (2021).
O Complexo Armazém é uma casa de eventos maravilhosa, contudo, parte dela é a céu aberto, o que sempre causa uma certa apreensão nos espectadores. Aqui me refiro ao problema que uma chuva poderia causar, e naquela ocasião ela veio! Felizmente, quando o tempo fechou, a atração principal já havia terminado o seu set, para os quase quinhentos pagantes que presenciaram uma aula de Black Metal.
Mas vamos começar pelo início do cronograma, com a escalação da Visceral Suffering e o seu competente Brutal Death Metal, para ser o abre alas. Eu já pude conferir o show destes caras em duas outras oportunidades, e sempre se impuseram como um grupo sólido, que sabe onde quer chegar, passando a sua mensagem de maneira muito clara. Contudo, quando cheguei ao local, o grupo já estava se despedindo com os seus últimos Singles “Requiem of Death” (2023) e “Hecatombe” (2024).
Com o encerramento da curta participação da Visceral Suffering, aproveitamos para visitar as poucas mesas de merchandising disponíveis. Acabei comprando duas camisetas do ROTTING CHRIST, com aquele já habitual “precinho” inflacionado e que, comumente, estupra o bolso de qualquer assalariado que viva no Brasil. Ainda assim, adoro estes momentos, por justamente ser neles que mais nos socializamos e passamos a conhecer os profissionais do backstage.
Eu ainda estava concluindo meu papo com o manager da tour, lá nas tais mesas de merchan, quando as luzes do palco se apagaram e começou a introdução nos PAs, marcando em definitivo o meu reencontro com o ROTTING CHRIST, vinte e sete anos depois. O baterista Themis foi o primeiro que apareceu, fazendo o sinal da cruz invertida com as suas baquetas, tendo resposta automática do público. Na sequência, o guitarrista Kostis Foukarakis e o baixista Kostas Heliotis, arrancaram mais gritos dos presentes até a chegada do “boss” Sakis Tolis.
Estar novamente na presença de um dos meus ídolos não tem preço, então nem preciso dizer que já nos primeiros momentos de “Aealo” entrei em êxtase. Sem tempo para recuperar meu fôlego emendaram com “Pretty World, Pretty Dies”, um dos carros-chefe do seu novo álbum “Pro Xristou” (2024). Bacana foi ver a excelente receptividade que “Pretty World, Pretty Dies” e “Like Father, Like Son” conseguiram, principalmente porque faziam poucos meses do lançamento da última obra.
O set procurou ser o mais democrático possível, contudo senti bastante falta de faixas dos clássicos “A Dead Poem” (1997) e “Sleep of the Angels” (1999). Assistir a um show do ROTTING CHRIST sem as presenças sempre obrigatórias de “Sorrowfull Farewell”, “Among Two Storms”, “Cold Colours” e “After Dark I Feel” é inimaginável, mas infelizmente aconteceu. Aliás, da década de noventa, só tivemos “King of a Stellar War”, “The Sign of Evil Existence” e “Non Serviam”, esta última do álbum homônimo e a mais celebrada por todos.
Um ponto perceptível foram as constantes tosses apresentadas por Sakis, durante os intervalos de algumas das canções. Fui apurar e soube que ele ficou doente durante a turnê, impossibilitando-o de realizar o meet & greet na noite anterior, em Recife. Ainda assim, não se abateu e interagiu com o público constantemente, distribuindo sorrisos e mensagens de agradecimento pelo suporte. “Societas Satanas”, versão do seu projeto Thou Art Lord, foi outro dos destaques, que aqueceu os corações dos bangers mais antigos, incluindo este aqui.
Naquela altura a apresentação já se aproximava do seu fim, quando soltaram “Grandis Spiritus Diavolos” de “Κατά τον δαίμονα εαυτού” (2013) e “The Raven” de “The Heretics” (2019), que conseguiram arrancar as últimas energias dos maníacos, que não paravam de se digladiar no mosh pit, sempre com o olhar atento de Sakis nas suas reações. “Noctis Era” foi a última, após uma breve saída do quarteto para o chamado “bis”. Apesar de “Aealo” (2010) passar bem longe de ser um dos meus discos preferidos, confesso que ela foi uma boa escolha para o encerramento.
Com o final do show, após a tradicional foto da banda com o público, rumei para a área específica do camarim, para um bate papo pré-agendado com Sakis e, para o meu espanto, percebi que o cara estava atendendo uma enorme fila, de mais ou menos cinquenta pessoas, em um local que não era coberto. Lembram que mencionei que ele estava doente?! Pois é, mesmo doente, o cara fez questão de atender um por um, na fraca chuva que estava dando sinais de piora. Um verdadeiro exemplo de empatia e comprometimento com o seu trabalho. De fato, exemplar.
Meu papo com ele foi bastante rápido, até porque ele precisava repousar, pois ainda teria mais dois compromissos antes de finalizar a turnê brasileira. Contudo tive tempo de conversar sobre o Bangers Open Air, que acontecerá em maio de 2025 em São Paulo, já questionando-o sobre uma possibilidade de ter o ROTTING CHRIST por lá em 2026. Sakis ainda teve tempo de fazer uma chamada, em vídeo, para o show que o Malefactor realizará neste mesmo evento, e se mostrou curioso acerca do trabalho dos brasileiros. Um verdadeiro cavalheiro, podem acreditar.
Mesmo com as faltas sentidas, de mais músicas dos anos noventa no setlist, não tem como atestar que uma noite como esta não teve um saldo positivo. Estrutura de som impecável, iluminação excelente, músicas que passaram a limpo boa parte da sua carreira, e músicos afiados e entrosados. Este foi o panorama do meu reencontro com o ROTTING CHRIST que, de quebra, ainda me arrancou lágrimas com as lembranças de tal experiência.
Setlist:
01. Aealo
02. Pretty World, Pretty Dies
03. Demonon Vrosis
04. Kata Ton Daimona Eaytoy
05. Like Father, Like Son
06. Elthe Kyrie
07. King of a Stellar War
08. The Sign of Evil Existence
09. Non Serviam
10. Societas Satanas (Thou Art Lord cover)
11. In Yumen-Xibalba
12. Grandis Spiritus Diavolos
13. The Raven
14. Noctis Era
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