MONSTERS OF ROCK – E eis que os monstros reinaram absolutos em São Paulo
Postado em 19/04/2025


Artista: Vários
Evento: Monsters of Rock
Cidade/Estado/País: São Paulo – Brasil
Local: Allianz Parque
Data: 19 de Abril
Ano: 2025
Produtora: Mercury Concerts

E eis que o grande dia do reencontro chegou! Desde 1995, quando tive a minha primeira experiência no Monsters of Rock, aguardava por este momento e que veio a ser consumado, no último dia 19 de abril de 2025. Ao todo foram trinta longos anos de espera, quando tive o privilégio de ter presenciado alguns dos melhores momentos de nomes como Ozzy Osbourne e o seu “Ozzmosis”, Alice Cooper, o Megadeth com o belíssimo “Youthanasia”, além do Paradise Lost que acabava de ter lançado o clássico “Draconian Times”.

Bons tempos, grandes recordações! Mas como não dá para viver apenas das ótimas memórias, temos hoje no cardápio outros nomes de peso, que justificam o termo “monstros” usado no epíteto do referido evento. Se no passado tivemos os já citados Ozzy Osbourne, Alice Cooper e Megadeth, agora encabeçam a fila Scorpions, Judas Priest, Savatage e Europe. Ou seja, acredito que o nível tenha sido mantido com a confirmação de tantos veteranos para a edição deste ano.

Com o line-up montado, acrescido dos não menos importantes Stratovarius, Opeth e Queensrÿche, a The Ghost Writer Magazine garantiu a sua presença para uma cobertura exclusiva, carregada de emoção, parcialidade afetiva, momentos indescritíveis e sonhos de adolescência realizados com sucesso! Esses foram os ingredientes que carregamos na bagagem, e que foram postos em prática e vivenciados quando adentramos as dependências do Allianz Parque.

Chegamos relativamente cedo ao local, mas a acessibilidade não foi tão dinâmica o quanto esperávamos que fosse. Tanto que, em determinado momento, ficamos preocupados em perder o início dos trabalhos com o Stratovarius e o seu cativante Power Metal repleto de melodia. O relativo clima de apreensão deu lugar ao alívio, quando adentramos o Allianz Parque e prontamente fomos todos correndo nos posicionar para acompanhar bem de perto os finlandeses. Mal entramos e a introdução do seu show já explodia nos PAs, proporcionando o primeiro momento catártico para este que vos escreve.

Eu sei que o tal Power Metal Melódico já viveu dias melhores, e eu peguei a época áurea do mesmo. Obviamente um dos maiores e primeiros representantes do gênero atende pelo nome de Stratovarius, então, poder ter este terceiro contato com a banda, arrancou aquele adolescente adormecido que habita dentro de mim, e o fez transbordar de alegria. Começaram o seu set com as explosivas “Forever Free” do clássico “Visions” (1997) e “Eagleheart” do não tão saudoso “Elements Pt. I”, com os seus indefectíveis bumbos duplos, linhas de vozes lá em cima e melodias sempre marcantes. O estádio ainda estava relativamente vazio, se comparado a como ficou na parte da noite, mas os presentes que fizeram questão de estar ali logo cedo, ficaram muito satisfeitos com o que acompanharam.

Timo Kotipelto, no alto dos seus cinquenta e seis anos, ainda brilha com um timbre maravilhoso. Não senti qualquer dificuldade do cara em alcançar os tons mais altos, principalmente em músicas como “Paradise”, “Black Diamond” (novamente de “Visions”) e “Hunting High and Low” de “Infinite” (2000), essa última que fechou de maneira esplêndida a apresentação, com todos cantando em uníssono. O cara manteve banda e público sob controle, conduzindo como um verdadeiro frontman essa nova passagem do Stratovarius pelo Brasil. As mais recentes “World on Fire” e “Survive”, ambas de “Survive” (2022), se mostraram bem conectadas com as mais antigas, sendo recebidas como se fossem velhas conhecidas pelos fãs. Eu não poderia ter desejado uma performance melhor destes senhores, o que acabou por inserir um gás extra, para suportarmos a maratona que ainda estava apenas começando.

Além do já citado Timo, o quinteto já há algum tempo conta em suas fileiras com Matias Kupiainen (guitarra), Lauri Porra (baixo), Jens Johansson (teclado) e Rolf Pilve (bateria). Inclusive, Matias e Lauri, sempre que podiam, se aproximavam da plateia percorrendo a enorme passarela, que servia como extensão do palco, para juntos destilarem todo o seu latente talento, mais de perto dos reles mortais. O cantor, por sua vez, se comunicou bastante conosco e, em uma das suas falas foi categórico: “Estamos bastante honrados em poder tocar neste festival lendário especialmente para vocês. Obrigado por apoiarem o Stratovarius por tantos anos”. Emocionante!

Outros momentos que não posso deixar de mencionar foram as interações entre Kupiainen e Johansson, sempre precisos! O segundo, ainda, ostentando uma enorme bandeira brasileira em frente ao seu teclado, que aqueceu o coração dos mais patriotas. As presenças de “Speed of Light” e “Eternity” também me arrancaram instantes de introspecção, justamente pelo fato de estarem revisitando “Episode” (1996), um dos meus preferidos de toda a sua discografia. Ou seja, tivemos uma apresentação concisa, com um set variado e que primou por incluir alguns dos principais hinos da sua longeva trajetória.

Com a correria na entrada, acabei passando batido pela área de merchandising, e só pude conferir os produtos apenas a noite. Para ser bem direto, os itens se resumiam a bonés, camisetas, copos e patches, com preços inflacionadíssimos! Acabei não adquirindo nada, o que foi algo frustrante, tendo em vista que nessas oportunidades eu sempre procuro levar algum tipo de recordação. Pontuada a minha crítica, chegou a hora de recuperar o fôlego depois do show do Stratovarius, para recebermos de braços abertos os suecos do Opeth e o seu Prog/Metal.

Walcir Chalas (proprietário da histórica loja Woodstock Discos e ex-apresentador do programa Comando Metal, na rádio 89 FM) e Tatola Godas (apresentador da mesma emissora), foram os responsáveis pelos anúncios antes de cada banda adentrar o palco. Sempre bem humorados e comunicativos, rememoravam algumas das principais ocorrências dos festivais passados, concedendo assim uma pitada extra de entretenimento aos presentes. E foi a partir daí que Mikael Åkerfeldt entrou em cena, ao lado dos seus companheiros Fredrik Åkesson (guitarrista), Martín Méndez (baixista), Joakim Svalberg (tecladista) e Waltteri Väyrynen (baterista).

Eu sempre respeitei muito a trajetória e musicalidade do Opeth, mas para ser bem sincero nunca o acompanhei de perto. Gosto de Progressivo, mas não é um estilo que eu escuto com frequência, até porque ele requer atenção plena para melhores absorção e compreensão. Talvez por isso, achei que o quinteto ficou um tanto quanto deslocado, quando paramos para analisar o line-up completo. Do seu novo álbum, “The Last Will and Testament” (2024) apresentaram “§1” e “§3”, com a dupla carregando a complexidade habitual e esperada.

Uma ausência muito sentida pelos fãs, foi de canções extraídas de “Blackwater Park” (2001). “The Leper Affinity” costuma ser carta marcada nas aparições do Opeth, mas desta feita não aconteceu. Uma pena! Confesso que as alternâncias de andamentos e as músicas enormes me cansaram um pouco, pois acredito que este tipo de som se encaixe melhor em um anfiteatro, com o público sentado, como se estivesse assistindo a uma peça. Todavia, pude presenciar diversos fãs se emocionando ao som de “Deliverance” e “Sorceress”, dos homônimos de 2002 e 2016, respectivamente. Ainda assim, tal entusiasmo não foi compartilhado por mim, infelizmente.

Akerfeldt, como não poderia deixar de ser, foi o destaque maior. Sempre bem humorado, conversou bastante e, inclusive, relatou que esse era um indefectível defeito de fabricação: falar em demasia. E foi em uma dessas interações que o músico revelou a conexão da banda com o Brasil, lembrando-nos que o seu antigo baterista Anders Nordin, é brasileiro adotado por suecos. Confesso que eu não sabia disso, até porque o cara deixou o posto em 1997. Fica o registro.

Em “Ghost of Perdition” de “Ghost Reveries” (2005) pude presenciar o inimaginável: uma roda aberta por fãs, para agitar em interação com uma banda progressiva. O caro leitor tem que convir que isso é algo inimaginável, mas os fãs do Opeth costumam idolatrar esses caras de uma forma até exagerada, acredito. Então, não por acaso, vi várias pessoas irem às lágrimas quando “In My Time of Need” de “Damnation” (2003) foi executada. Algo surreal para este leigo ignorante, mas admirável ao mesmo tempo.

Gostaria de reiterar que respeito muito a proposta artística do Opeth e, dentro do que se propõe, a banda é excelente. Mas para um festival do tamanho do Monster of Rock, a sua vasta bagagem musical trouxe um gosto agridoce e, talvez, uma sensação de descolamento da imersão festiva que o Stratovarius nos entregou há uma hora atrás. Como terei a oportunidade de ver o grupo indoor, no próximo dia 21 de abril, vou poder ter uma noção exata se o problema foi a ambiência desfavorável.

Com o adeus de Mikael Åkerfeldt, fui dar uma volta, almoçar um sanduíche magro que me custou a bagatela de R$ 30,00 (?!) e esperar pelos norte-americanos do Queensrÿche. Eu conheci a banda quando a mesma veio ao Brasil para o Rock in Rio II em 1991, e na época contava com o fabuloso vocalista Geoff Tate, que imprimia todo o seu background nas canções do recém lançado “Empire” (1990). Bons tempos aqueles, diante de tantas novidades e descobertas, que um jovem protótipo de headbanger poderia usufruir.

A minha história com os caras foi relativamente curta. Me recordo de ter adquirido o já mencionado “Empire” e o não tão bom “Promised Land” (1994), ainda nos anos noventa. Talvez por não ter gostado tanto do segundo, acabei deixando-os de lado. Mal sabia eu a tremenda besteira que estava fazendo, pois perdi muitos anos sem a companhia do, sempre relevante, guitarrista Michael Wilton e sua gangue. E esse é um tipo de erro que não me permito mais cometer, principalmente após a experiência que tive naquela tarde cinzenta, típica de São Paulo.

Pensando um pouco mais sobre o tema, eu cheguei à conclusão que fiz parte de um período que não me ajudou muito, na minha conexão afetiva com o Queensrÿche. Vivi ativamente os anos oitenta e noventa, antes da revolução proposta pelos streamings, então não pude pesquisar mais a fundo a sua discografia, pelas próprias restrições mercadológicas da época. Desta forma, acabei me rendendo ao que era mais fácil de ser encontrado, adquirido, ou seja, nomes como Metallica, Iron Maiden, Guns N’ Roses eram muito comuns nas quase extintas lojas de discos, e costumavam fazer a alegria dos jovens. E comigo não poderia ter sido diferente, não é mesmo?! Fica aqui a reflexão.

E foi cercado de ceticismo e presunção que fui chegando perto do palco para acompanhar os primeiros momentos de “Queen of the Reich”, do EP de estreia “Queensrÿche” (1982). Após o seu desfecho, emendaram com “Operation: Mindcrime”, clássica absoluta desde a sua disponibilização em 1988, e naquela altura o meu ceticismo foi transmutado em admiração plena. E tenho que atribuir esta minha mudança de humor ao vocalista Todd La Torre. Meu Deus do céu, como esse cara canta! Com um timbre bem parecido com Tate, ele transita com muita facilidade entre os tons altos, graves e médios, passando-nos a real impressão que é fácil fazer aquilo tudo.

La Torre, de fato, deixou o trabalho dos demais companheiros de banda mais fácil. Absolutamente nada que eles queiram tocar ao vivo, será retirado do set por conta da não aptidão do cantor. Absolutamente nada! E foi partindo dessa premissa que “Operation: Mindcrime” (1988) serviu de espinha dorsal para uma apresentação quase irrepreensível, com as presenças de “I Don’t Believe in Love”, “The Needle Lies”, “The Mission” e “Eyes of a Stranger”, além da já citada faixa título.

Lembra quando qualifiquei a apresentação do Queensrÿche como “quase irrepreensível”?! Pois é, você não leu errado! Apesar da performance matadora de La Torre, do carisma de Wilton e da enorme surpresa que tive ao saber que Casey Grillo (ex-Kamelot) era o seu atual baterista, a banda optar por deixar de fora clássicas como “Silent Lucidity” e “Jet City Woman”, é algo inexplicável. Eu defendo a tese que, em um festival onde o tempo de apresentação é reduzido, o artista tem que selecionar o que tem de melhor no seu catálogo. Infelizmente, não foi o caso aqui!

Adendo feito, reclamações aceitas pela audiência de plantão, tenho que admitir que esse meu primeiro contato in loco com o Queensrÿche, serviu para abrir os meus ouvidos para o que a banda está fazendo atualmente. E de tão certo que deu, ao escrever estas mal traçadas linhas, estou escutando o seu último álbum “Digital Noise Alliance” (2022), que mantém a assinatura do seu Heavy/Prog Metal intacta, respeitando os melhores períodos do seu passado. Excelente encontro e, agora, com o dever de casa devidamente feito, não pretendo largar as mãos do Queensrÿche mais nunca.

Eu já estava bem próximo do palco, ainda quando o Queensrÿche estava atuando, quando me dei conta que o Savatage seria a próxima a entrar em cena. A partir dali a hidratação, alimentação e necessidades fisiológicas se tornaram regalias que eu não teria mais direito, pois o meu desejo por ver esses estadunidenses era muito maior. Ao lado do Judas Priest, obviamente, o Savatage era o principal responsável por eu ter topado assumir o compromisso, de redigir esta cobertura para a The Ghost Writer Magazine.

Antes de “The Ocean” tomar conta do ambiente, instrumental de abertura do álbum “The Wake of Magellan” (1997), um susto. Quando a equipe técnica ainda trabalhava na montagem do palco, um enorme cabo de energia cedeu da parte superior da estrutura. Não preciso nem dizer que o fato gerou um atraso, até de certa forma pequeno, respeitando a falta de certeza da segurança e gravidade do ocorrido. Problema resolvido, em partes, ao relocarem o inconveniente preso de uma forma que não atrapalhasse os músicos e nem a visão do público, “The Ocean” deu o ar de sua graça. Com o enorme telão apresentando a formação da icônica guitarra estilizada com rosas, da contracapa de “Streets – A Rock Opera” (1991), foi a vez de assumirem o protagonismo o vocalista Zak Stevens, os guitarristas Al Pitrelli e Chris Caffery, o baixista Johnny Lee Middleton, o baterista Jeff Plate, além dos tecladistas convidados Paulo Cuevas e Shawn McNair.

“Welcome” com o seu toque teatral e a pesada “Jesus Saves” vieram na sequência, valendo aqui mencionar, logo de cara, a performance de Zak Stevens. Com o seu retorno desde 2023, foi muito legal poder ver que o cara está em plena forma! Acredito que isso se deva, talvez, pela constância com o seu trabalho ao lado da Trans-Siberian Orchestra, que o condiciona a estar sempre ativo. O tempo parece que não passou para Zak, ao demonstrar a força dos seus graves, dentro de uma técnica invejável embasada na voz de peito. Caffery não fica atrás, despejando o seu já corriqueiro carisma ao conduzir os principais riffs e bases de músicas como “The Wake of Magellan”, “Dead Winter Dead” e “Handful of Rain”, as duas últimas dos homônimos de 1995 e 1994, respectivamente.

Até aqui o Savatage foi quem melhor usou o enorme telão de LED, alocado atrás do kit de bateria de Jeff Plate. Jeff, aliás, esbanjando elegância na sua participação, algo similar ao que comumente vemos ocorrer quando o protagonista é Scott Travis (Judas Priest). Realmente, lindo de ver o músico em ação! Voltando para a funcionalidade do telão, impossível não destacar a participação do amado Jon Oliva em “Believe”. O grupo preparou um dos momentos mais emocionantes de todo o festival, ao resgatar a ideia do Queen que, anos atrás, promoveu um dueto histórico do saudoso Freddy Mercury com o seu último substituto, Adam Lambert.

Jon Oliva, vocalista, tecladista e membro fundador do Savatage, além de sofrer um grave acidente em 2023, foi diagnosticado com esclerose múltipla e doença de Ménière. Sua ausência física foi muito sentida por todos, mas ninguém estava preparado para vê-lo no telão, ao piano, tocando e cantando uma das suas mais belas composições. A catarse veio quando a banda, visivelmente emocionada, agregou o seu som orgânico e presencial ao conteúdo pré-gravado, que ainda continha imagens do falecido guitarrista Criss Oliva. Não preciso nem dizer que me emocionei bastante nessa e, não obstante, preciso admitir que “Edge of Thorns” provocou o mesmo efeito em mim.

“Edge of Thorns”, clássico de 1993, é um dos trabalhos que marcaram a minha vida,! Então, não é para menos, que foi muito tocante ver a banda que o concebeu, bem ali na minha frente, executando a emblemática faixa-título. Naquele momento, empolgado, Zak pegou com o seu roadie várias bolas de futebol, e começou uma ação divertidíssima ao chutá-las em direção ao público. Pelo visto, os americanos ainda teimam em nos enxergar como o tal “país do futebol”, sendo que atualmente somos apenas um pastiche do que fomos um dia. Mas valeu a pena, ver o breve afago aos seus fãs brasileiros.

O meu temor com a chegada de “Chance”, se tornou um muito bem vindo sentimento de alívio, quando percebi que os arranjos com diversos vocais sobrepostos foram respeitados, já que o que foi registrado em “Handful of Rain”, é extremamente complicado de ser reproduzido ao vivo. Da fase de Jon ainda tivemos “Gutter Ballet”, “Sirens” e o encerramento com “Hall of the Mountain King”. Essa última, não por acaso, cantada em uníssono por todo o estádio, que naquela altura já contava com uma enorme audiência.

A minha saga rumo a ficar mais e mais próximo do palco continuava firme e forte, quando a preparação para o Europe era devidamente encabeçada, por uma enorme equipe de profissionais. Não preciso nem dizer que o meu coração já estava na boca, mesmo que essa seria a minha segunda experiência com os suecos. Há dois anos e meio atrás tive a chance de ver esses senhores em Fortaleza, em um evento exclusivo e inusitado, que marcou a contagem regressiva para a inauguração do Residence Club at the Hard Rock Hotel. Naquela oportunidade, os vi bem de longe e, apesar do setlist recheado de verdadeiros hinos, este inconveniente me desconectou do que acontecia on stage.

Dessa feita, me precavi, fui com tudo para o meio do povão e não me arrependi, muito pelo contrário. Poder ver Joey Tempest bem de perto, cantando como um garoto de dezoito anos, canções que foram trilhas sonoras de várias gerações, não tem preço. É um verdadeiro privilégio e, preciso muito, de fato, agradecer ao Monsters of Rock por essa oportunidade maravilhosa. E foi com a expectativa de um set calcado nos anos oitenta, que me municiei de energia, para as doze músicas escolhidas para a sua nova apresentação no Brasil.

Com um belo sorriso estampado no rosto, após uma breve introdução, foi que o Europe nos entregou “Broken Wings”, B-Side do Single “The Final Countdown” (1986). Já era noite quando a clássica “Rock the Night” ecoou para o público, que já lotava o Allianz Parque. Apesar da ameaça constante de que, a qualquer momento, viria uma chuva torrencial, éramos acompanhados por uma garoa ainda fina. Pontuado esse pequeno incoveniente, foi a partir de “Rock the Night”, inclusive, que tive a certeza que os clássicos seriam predominantes por aqui. E não deu outra!

A fase dos anos oitenta é o carro-chefe do Europe desde sempre, ainda que tenham lançado ótimas obras nas décadas que seguiram. E foi para tentar ser democrática, que a banda incluiu ⁠“Last Look at Eden” do álbum de mesmo nome de 2009, “Walk the Earth” faixa-título do disco de 2017 e o Single “Hold Your Head Up” de 2023. Todas bem recebidas, mas bem longe da euforia causada por “Ready or Not”, “Superstitious” e “⁠Cherokee”, apenas para citar três exemplos cabíveis.

Ainda em “Superstitious”, foi muito legal poder ver Joey interagir com os fãs, ao ter incluído um pequeno trecho de “No Woman, No Cry”, composta e lançada por Bob Marley & The Wailers em 1974. Aliás, a interação do carismático cantor foi constante, ora divertida quando pronunciava a palavra “caralho” em bom português, ora apoteótica com o anúncio da balada “Carrie”, presente em “The Final Countdown”. Não consigo esquecer a sensação de fazer parte da massa de pessoas, que ligou as lanternas dos seus smartphones durante a canção, resultando em algo mágico. Acredito que, experiência similar, você apenas conseguirá comparar ao que o Iron Maiden promove, quando apresenta “Fear of the Dark” nas mesmas condições.

“Scream of Anger”, oriunda de “Wings of Tomorrow” (1984), foi outro destaque, principalmente porque o seu peso conversou super bem com as músicas pós 2003, quando o grupo retornou às suas atividades com o subestimado “Start from the Dark”. Além dela, o encerramento com “The Final Countdown” foi mais do que previsível, paradoxalmente muito esperado, mas que reservou um momento indesejado. Foi um pouco frustrante presenciar o tecladista Mic Michaeli errando a sua introdução, algo imperdoável até se fosse a minha mãe executando-a. Uma pena, mas que não apagou o espetáculo de vê-la ao vivo, com o telão exibindo imagens conexas com a sua mensagem ficcional.

Posso então dizer, com a fala ainda embargada, que Joey Tempest (voz), John Norum (guitarra), John Levén (baixo), Mic Michaeli (teclados) e Ian Haugland (bateria); cumpriram com maestria a proposta de revisitar os seus anos dourados, com algumas leves pitadinhas do peso dos seus mais recentes títulos?! Acredito que sim, de maneira incontestável! Eles passaram no teste do tempo, certamente, e entregaram o bastão para o Judas Priest com todas as honrarias possíveis.

Ao final do show do Europe o cansaço me venceu, então tive que me sentar na estrutura que cobria o gramado do Allianz Parque, para recuperar um pouco das energias para a chegada dos britânicos. Vários fãs estavam na mesma situação que eu me encontrava, se juntando a mim para um descanso merecido nas pernas e, foi nesse momento, que algo muito marcante aconteceu. Um videoclipe foi exibido, nos dois imensos telões, homenageando diversas celebridades do Rock/Metal que nos deixaram. Foi lindo ver a reação da enorme plateia quando nomes como Lemmy Kilmister (ex-Motörhead), Eddie Van Halen (ex-Van Halen) e os nossos Pit Passarel (ex-Viper) e Andre Matos (ex-Angra, Shaman e Viper) iam surgindo. Bonito de ver e, ao final deste texto, tivemos o cuidado de listar os que conseguimos identificar.

E foi com um trecho de “War Pigs” do Black Sabbath que fomos todos alertados para que as atenções se voltassem ao palco, para que pudéssemos receber o Judas Priest. Uma enorme cortina escondia os músicos que, após uma breve introdução, foram revelados, todos juntos ao centro, executando a poderosíssima “Panic Attack”, do seu mais recente álbum “Invincible Shield” (2024). Preciso dizer que o estádio veio a baixo? Não, né?! E foi neste ritmo frenético que emendaram “You’ve Got Another Thing Comin’”, “Rapid Fire” e o hino absoluto “Breaking the Law”, que foi encerrado com Halford, avisando aos presentes que “o Priest estava de volta”. Ao final desaa última, eu já estava sem voz, dilacerado com a competência e saúde de Rob Halford.

O palco era outro atrativo, com a bateria de Scott Travis sobre um suporte metálico que o deixava bem a vista do público. O telão também foi muito bem utilizado, com imagens conectadas com cada uma das músicas, que eram ainda mais evidenciadas por um sistema de iluminação maravilhoso. E como se não bastasse tudo isso, a banda ainda nos presenteou com um tridente gigante no topo, que mais tarde foi movido na direção do público, servindo como mais um suporte ao já mencionado sistema de iluminação. Um espetáculo que toda pessoa apaixonada por Heavy Metal, deveria presenciar algum dia.

Impressionante foi ver o senhor Rob Halford, no alto dos seus 73 anos, desfilando pelo palco, com a sua já habitual simpatia de sempre! Ver esse cara alcançar notas altíssimas em todo o set, fez por diversas vezes o meu coração bater mais rápido. “Riding on the Wind” foi uma das suas melhores atuações, antes da poeira abaixar um pouco com “Love Bites” e “Devil’s Child”, de “Defenders of the Faith” (1984) e “Screaming for Vengeance” (1982), respectivamente. “Crown of Horns” foi a próxima, mais uma de “Invincible Shield” e que mostrou ser bastante funcional ao vivo. Sua bela melodia serviu como ponte para “Sinner”, do álbum “Sin After Sin” (1977), que resgatou uma das fases mais prolíficas do Priest, arrancando reações eufóricas dos fãs mais antigos.

Com uma chuva fraca, porém incômoda, dando sinais de que poderia piorar, seguimos em frente com o quinteto que incluiu a descartável “Turbo Lover” antes de “Invincible Shield” e da indispensável “Victim of Changes”. Foi nessa última, outro dos momentos mais emocionantes que presenciei em todo o festival! Nela, ocorreu uma bela homenagem para Glenn Tipton, guitarrista que está afastado dos palcos devido à doença de Parkinson, com diversas imagens suas exibidas no telão. É uma sensação extremamente difícil de descrever em palavras, quando uma canção tão forte é entoada por um estádio inteiro cantando junto. Ter estado ali foi uma dádiva, uma benção que jamais apagarei da minha memória enquanto eu viver. Mágico!

“The Green Manalishi”, cover do Fleetwood Mac, foi outra muito bem recebida, precedendo o desfecho com “Painkiller”. Antes dela, Travis assumiu o microfone e agradeceu efusivamente a todos que ali estavam, afirmando, inclusive, que eles só tinham tempo para mais uma música. Obviamente foi a deixa perfeita para que todos gritassem, em plenos pulmões, pelo título do álbum de 1990. Então, com a introdução de bateria mais conhecida do gênero, que “Painkiller” tratou de pôr os pingos nos “is”, separando os homens das crianças e reafirmando a real condição de headliner que o Judas Priest ocupa!

Depois de uma breve retirada de cena, Rob Halford (voz), Richie Faulkner (guitarra), Andy Sneap (guitarra), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) retornam para um bis pra lá de especial. “The Hellion/Electric Eye” incendiou a todos novamente, para a chegada de “Hell Bent for Leather” com a tradicional entrada de Halford montado na sua Harley-Davidson. Legal foi ver a cênica, que contou com o cantor sentado na sua “hogs” e o guitarrista Sneap, simulando uma briga. Algo divertido e que fez a ponte para o clima festivo da última, “Living After Midnight”.

Posso ser sincero?! Com o final do Judas Priest, eu já considerava a minha missão ali mais do que cumprida, mas ainda tínhamos os alemães do Scorpions no cronograma. Não me leve a mal, caro leitor, respeito demais toda a história da banda, reconheço a sua importância, mas eu nunca me aprofundei na sua discografia. Então, o que eu posso dizer é que gosto muito daquelas canções que todo mundo gosta, principalmente as baladas. Para piorar o quadro, a chuva que estava apenas incomodando horas antes, resolveu vir com tudo, para testar a paciência e resiliência da multidão. Foi bem complicado permanecer ali, mas a minha função de jornalista gritava para eu me manter firme!

A espera foi longa! Mais de cinquenta minutos depois do Priest, o Scorpions iniciou a sua participação com o trecho lento e pré-gravado de “Coming Home”, faixa de “Love at First Sting” (1984), e que não gerou muita empolgação. Foi a partir dela que comecei a me preocupar de verdade, pois o vocalista Klaus Meine não parecia nada bem. Ele, na verdade, parecia doente, fragilizado, demonstrando muita dificuldade em cantar e se locomover no palco que, naquela altura, estava completamente ensopado. Seguiram com “Gas in the Tank” (única do mais recente “Rock Believer” de 2022), “Make It Real” e “The Zoo”, com essa última obtendo a melhor recepção até aqui.

“Coast to Coast” elevou um pouco os ânimos, com os músicos se agrupando na passarela, tendo no guitarrista e fundador Rudolf Schenker, o principal destaque quando o assunto é presença de palco. E, com o solo devidamente pavimentado, foi a partir dai que a comemoração pelo aniversário da banda realmente começou, com a inserção de um medley focado nos anos setenta, com trechos das músicas “Top of the Bill”, “Steamrock Fever”, “Speedy’s Coming” e “Catch Your Train”, visando abraçar os seus seguidores mais antigos, e que amam a fase do guitarrista Uli Jon Roth. Tenho que reconhecer que foi uma parte especial do show, mesmo que eu não conhecesse nenhuma das composições aqui listadas.

A trinca composta por “Bad Boys Running Wild”, “Send Me an Angel” e “Wind of Change” me agradou mais. Lembra quando mencionei que amo as baladas do Scorpions?! Pois é, e foi justamente em “Send Me an Angel” e “Wind of Change” que consegui esquecer um pouco da chuva, e do quanto eu já estava exausto por estar ali em pé por muitas e muitas horas a fio. Já “Loving You Sunday Morning” e “I’m Leaving You” não são tão lembradas para figurarem nos setlists do Scorpions e, confesso, que ambas também soaram um tanto quanto descartáveis para este que vos escreve.

Eu acho enfadonho demais solos de qualquer instrumentista que seja, durante um tipo de show como esse. Contudo, aqui estamos falando de Mikkey Dee, que por muitos anos foi baterista do inigualável Motörhead. Eu tenho que admitir que me diverti muito durante o seu voo solo, até porque é sempre bom poder ver destacado um músico desse gabarito. A mão forte de Dee preparou o terreno para as chegadas das clássicas “Tease Me Please Me”, “Big City Nights” (uma das melhores do show) e a indefectível “Still Loving You”, que arrancou lágrimas até dos mais incrédulos.

Com uma breve saída dos músicos de cena, foi apresentado no telão um vídeo que serviu como introdução, para a entrada de um escorpião gigante, inflável, e que deixou o palco uma verdadeira obra de arte. E foi dentro desse contexto que apresentaram “Blackout” e se despediram com “Rock You Like a Hurricane”. Um grande final, diria até épico, mesmo para um cara que não é tão admirador da banda como eu. Adorei o final, de verdade!

Foram trinta longos anos para o meu reencontro com o Monsters of Rock. Saí de São Paulo com diversas histórias na bagagem. Histórias que descrevem momentos únicos, especiais e que tornam esse tipo de experiência tão singular. Estar próximo de tantas lendas, tantos heróis de toda uma vida, é algo surreal, indescritível, eu diria! Então, aqui me despeço, com a certeza de que não esperarei mais trinta anos para estar novamente frente e frente com os verdadeiros monstros do Rock. Cada um deles, sem sombra de dúvidas, com um espaço muito especial reservado no meu coração e na minha alma.

In Memoriam:

Lemmy Kilmister (ex-Motörhead), David Bowie, Nick Menza (ex-Megadeth), Chuck Berry, Chris Cornell (ex-Soundgarden, Audioslave), Chester Bennington (ex-Linkin Park), Malcolm Young (ex-AC/DC), Vinnie Paul Abbott (ex-Pantera), Andre Matos (ex-Angra, Shaman), Neil Peart (ex-Rush), Little Richard, Eddie Van Halen (ex-Van Halen), Joey Jordison (ex-Slipknot), Charlie Watts (ex-Rolling Stones), Taylor Hawkins (ex-Foo Fighters), Jerry Lee Lewis, Erasmo Carlos, Jeff Beck, Canisso (ex-Raimundos), Rita Lee, James Kottak (ex-Scorpions), Vinícius Neves (ex-About2Crash), CJ Snare (ex-Firehouse), Nelson Brito (ex-Golpe de Estado), John Mayall, Jack Russel (ex-Great White), Pit Passarel (ex-Viper), Paul Dianno (ex-Iron Maiden), Phil Lesh (ex-Greatful Dead), John Sykes (ex-Whitesnake, Thin Lizzy) e Les Binks (ex-Judas Priest).

Scorpions Setlist:

01. Coming Home
02. Gas in the Tank
03. Make It Real
04. The Zoo
05. Coast to Coast
06. Medley setentista: Top of the Bill/Steamrock Fever/Speedy’s Coming/Catch Your Train
07. Bad Boys Running Wild
08. Send Me an Angel
09. Wind of Change
10. Loving You Sunday Morning
11. I’m Leaving You
12. Jam de baixo e bateria
13. Solo de bateria
14. Tease Me Please Me
15. Big City Nights
16. Still Loving You
17. Blackout
18. Rock You Like a Hurricane

Judas Priest Setlist:

01. Panic Attack
02. You’ve Got Another Thing Comin’
03. Rapid Fire
04. Breaking the Law
05. Riding on the Wind
06. Love Bites
07. Devil’s Child
08. Crown of Horns
09. Sinner
10. Turbo Lover
11. Invincible Shield
12. Victim of Changes
13. The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (cover do Fleetwood Mac)
14. Painkiller
15. The Hellion/Electric Eye
16. Hell Bent for Leather
17. Living After Midnight

Europe Setlist:

01. On Broken Wings
02. ⁠Rock the Night
03. ⁠Walk the Earth
04. ⁠Scream of Anger
05. ⁠Sign of the Times
06. ⁠Hold Your Head Up
07. ⁠Carrie
08. ⁠Last Look at Eden
09. ⁠Ready or Not
10. ⁠Superstitious
11. ⁠Cherokee
12. ⁠The Final Countdown

Savatage Setlist:

01. The Ocean (com trecho de “City Beneath the Surface”)
02. Welcome
03. Jesus Saves
04. The Wake of Magellan
05. Dead Winter Dead
06. Handful of Rain
07. Chance
08. Gutter Ballet
09. Edge of Thorns
10. Believe
11. Sirens
12. Hall of the Mountain King

Queensrÿche Setlist:

01. Queen of the Reich
02. Operation: Mindcrime
03. Walk in the Shadows
04. I Don’t Believe in Love
05. Warning
06. The Needle Lies
07. The Mission
08. Nightrider
09. Take Hold of the Flame
10. Empire
11. Screaming in Digital
12. Eyes of a Stranger

Opeth Setlist:

01. §1
02. Master’s Apprentices
03. §3
04. In My Time of Need
05. Ghost of Perdition
06. Sorceress
07. Deliverance

Stratovarius Setlist:

01. Forever Free
02. Eagleheart
03. World on Fire
04. Speed of Light
05. Paradise
06. Survive
07. Eternity
08. Black Diamond
09. Unbreakable
10. Hunting High and Low

 
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