Eu tenho uma história muito íntima com a MAESTRICK, que me remete ao longínquo ano de 2011, quando o grupo estava estreando com o lançamento do seu debut “Unpuzzle!”. Desde aquela época, a banda já tinha um nível altíssimo, escrevendo temas que fundiam o Progressivo, o Power Metal e a MPB. O tempo passou e este quarteto paulista ganhou notoriedade e respeitabilidade, lançando sempre conteúdos complexos, extremamente ricos e que atendem aos anseios dos mais criteriosos fãs do gênero. Prestes a lançar o seu terceiro álbum “Espresso Della Vita: Lunare”, que é uma continuação direta do seu antecessor de 2018 “Espresso Della Vita: Solare”, fomos conversar com o cantor e compositor Fábio Caldeira, para obtermos todos os detalhes intrínsecos e primordiais da sua trajetória até aqui.
– Fábio, muito obrigado pelo tempo cedido para a nossa equipe da The Ghost Writer Magazine. Conheci a MAESTRICK em 2011, quando a banda estava lançando o excelente “Unpuzzle!”. De lá para cá, como vocês desenvolveram sua carreira? Poderia fazer um resumo cronológico para nós?
Fábio Caldeira – Claro. Como você disse, o “Unpuzzle!” foi lançado em dezembro de 2011. Durante a turnê, tocamos em festivais nacionais como o Roça’n Roll, fizemos nossos dois primeiros shows internacionais: no Lima Prog Fest no Peru, e no La Plata Prog, na Argentina. Em 2013, recebemos uma proposta de uma gravadora alemã para lançar o “Unpuzzle!” na Europa, América do Norte e Ásia trazendo resenhas muito positivas e uma excelente repercussão. Em 2015 lançamos o “The Trick Side of Some Songs”, um EP com releituras de músicas de bandas clássicas que nos influenciaram. No meio disso já trabalhávamos no que viria a ser o projeto do “Espresso Della Vita” e decidimos que seria dividido em duas partes. A primeira, “Solare”, foi lançada em 2018 pela gravadora japonesa Marquee/Avalon em toda Ásia. Nos rendeu excelentes críticas mundo afora, tiramos a maior nota na revista BURRN! Magazine do Japão, entre todos os lançamentos da gravadora naquela época e fizemos nossa primeira turnê europeia, com nove shows em quatro países. Em 2019 tocamos no festival Abril Pro Rock em Recife, com participação do Movimento Baque Mulher, a primeira nação de maracatu do mundo, composta só por mulheres. Em 2020 começamos a trabalhar efetivamente na segunda parte do “Espresso Della Vita”, o “Lunare”, que será lançado dia 02 maio mundialmente pela gravadora Frontiers Records, e o primeiro show será no festival Bangers Open Air em São Paulo, no dia 04 de maio.
– “Pescador”, do já mencionado “Unpuzzle!”, é uma belíssima música. Acredito que para a sua criação, a banda se debruçou com força no álbum “Holy Land” do Angra, em virtude do forte apelo do Progressivo em junção com a MPB. Até hoje ela é obrigatória nos shows? O que ela significa para vocês, em pleno 2025?
Fábio Caldeira – A “Pescador” tem sim grande influência do “Holy Land”, mas nós somos curiosos demais para termos entendido o estímulo que esse disco, tão emblemático, nos causou e não buscarmos as raízes do seu conceito. Por essa razão, digo que ela também tem influência de Mutantes, do disco “Tudo Foi Feito Pelo Sol”, do Secos e Molhados, Raul Seixas, Zé Ramalho, Fagner e da música sertaneja raiz, tão forte na nossa região. “Pescador” é sempre um dos momentos mais emocionantes dos shows e tenho convicção de que isso não vai mudar tão cedo. Agora sobre o que ela significa, eu tenho um motivo particular, que é a homenagem ao meu querido avô materno, o senhor Antônio Cornachi, um grande homem que inspirou a sua criação. De certa forma, ela me reconecta a ele toda vez que a escuto ou canto.
– Em 2018 veio o segundo álbum, “Espresso Della Vita: Solare”, contendo uma temática profunda e, no lado musical, a banda optou por intensificar ainda mais o seu lado Progressivo. O que você pode nos falar sobre este trabalho como um todo?
Fábio Caldeira – O conceito do “Solare” surgiu de um café da tarde com a minha mãe. Ela fez uma analogia muito bonita sobre a vida e uma viagem de trem. Meus dois avôs trabalharam na antiga concessionária ferroviária do estado, a FEPASA. Então cresci ouvindo histórias sobre trens e as rondas que eles faziam. O “Solare” é, portanto, a primeira parte de uma viagem de trem de um dia, como metáfora para nossa jornada nessa vida. São doze músicas que representam as primeiras doze horas do dia, do nascimento/embarque até a metade da vida/viagem, no início da vida adulta. É um disco que bebe muito do Rock rural do 14 Bis, do Sá e Guarabyra, Milton Nascimento, Clube da Esquina e do Progressivo clássico de bandas como Yes e Genesis. Temos músicas em português, músicas com trechos em espanhol, em tupi-guarani, músicos convidados de vários países da América do Sul, uma orquestra de cordas, um coral, minha avó canta em uma das músicas também, temos banjo, ukulelê, percussão afro-brasileira e muito peso em várias faixas. Ele começa ingênuo e até infantil e vai evoluindo musical e liricamente, até a transição com a noite.
– Em 2024 a banda foi uma das atrações do ProgPower Europe, sendo essa a sua primeira experiência em solo europeu. Quais memórias você carrega consigo desta oportunidade? Qual o saldo deste primeiro giro na Europa?
Fábio Caldeira – Na verdade foi nossa segunda incursão na Europa, e preciso dizer, foi incrível! Uma das experiências mais intensas e marcantes que já tivemos. Além de ser um festival que sempre sonhamos tocar, fomos ultra bem recebidos. O ProgPower é uma verdadeira família. Desde a organização, o público, até as bandas. Todos ficam hospedados em um Castelo, em Baarlo, cidade que o festival ocorre há mais de vinte anos e antes e depois do evento todos ficam socializando, ouvindo música, cantando, bebendo e confraternizando. É algo único, genuíno e amoroso. Diante desse cenário fizemos nosso melhor no show e a repercussão foi muito positiva. Esperamos voltar o quanto antes.
– “Espresso Della Vita: Lunare”, seu terceiro álbum foi anunciado com lançamento para 2025. Pelo título, acredito que ele seja uma espécie de continuação de “Espresso Della Vita: Solare”. Como se dá essa conexão entre as obras e o que você pode nos adiantar sobre este novo capítulo?
Fábio Caldeira – O “Lunare” é a segunda parte da história que começou no “Solare”. São doze músicas que representam as doze horas da noite. Se inicia exatamente do ponto em que o “Solare” terminou, da metade da vida do personagem principal até sua descida do trem, já bem velhinho. É um disco com momentos bem tensos, pesados, tanto musical quanto liricamente apresenta temas adultos, sérios onde o personagem é obrigado a crescer e encarar os desafios e tragédias dessa etapa da viagem. Tem muita variação de estilos, o que já é uma característica da banda, mas ele tem uma entrega muito madura e emocional da nossa parte. Cada música é um universo próprio que corrobora com a experiência total de estar dentro do trem conosco e vivenciar detalhe por detalhe cada momento dessa viagem. Estamos muito ansiosos para que todos possam escutar, pois desde o “Solare”, foram treze anos de trabalho intenso.
– “Ethereal” foi a primeira música deste novo disco apresentada ao público. Por qual razão ela foi a escolhida como primeira música de trabalho? Particularmente gostei muito do seu caráter mais moderno e do seu ótimo refrão.
Fábio Caldeira – “Ethereal” permitiu ao MAESTRICK explorar um lado mais acessível na sua produção. E apostamos nisso, pois ainda somos nós, ou seja, é genuíno, mas com potencial para atingir novos públicos também. Já o seu conteúdo lírico é mais profundo, reflexivo. E com a abordagem mais moderna, “Ethereal” representa muito bem nosso momento atual, onde olhamos otimistas para o futuro. Características perfeitas para um cartão de visita, não? Seu lançamento foi coroado com nosso primeiro videoclipe em muito tempo, dirigido pelo multipremiado diretor, Leo Liberti.
– “Lunar Vortex”, faixa deste novo trabalho, ganhou um videoclipe maravilhoso, contando ainda com a presença ilustre do vocalista Roy Khan (Conception, ex-Kamelot). Como se deu o contato com Roy para esta parceria e o que você pode nos falar sobre a construção de “Lunar Vortex”?
Fábio Caldeira – Eu conheci o Roy pessoalmente no show do Edu Falaschi que participamos. Nos demos bem de imediato e tivemos oportunidade de conversar sobre vários assuntos. Em um desses momentos, apresentei o MAESTRICK a ele, e na primeira oportunidade, nos convidou para tocar com o Conception em São Paulo meses depois. Coincidentemente, tínhamos uma música no disco muito influenciada pelos últimos trabalhos do Roy no Kamelot, a “Lunar Vortex”, que até tinha na sua primeira versão uma abordagem mais voltada ao Power Metal. Diante ensejo, para não dizer alinhamento cósmico, o convite veio naturalmente. Claro que ele pediu para ouvir, para que eu explicasse a letra e topou imediatamente. E o principal é que ele não só cantou, mas também participou do videoclipe. Foi a primeira vez em toda sua carreira que ele participou de um clipe, que não fosse de uma de suas bandas. Gravamos as cenas depois da turnê do Conception, no estúdio do Leo Liberti, que nos brindou novamente com sua genialidade e sensibilidade na direção. O vídeo de “Lunar Vortex” já ultrapassou os 100.000 views no YouTube.
– “Espresso Della Vita: Lunare” será lançado no mercado internacional pela Frontiers Music, mas e quanto ao Brasil? Já existe uma gravadora responsável pelo seu lançamento em terras brasileiras?
Fábio Caldeira – No Brasil o licenciamento ficou por conta da nossa empresa, a Maestrick Multiverse. Preferimos fazer dessa forma para centralizar todo o processo. E falando nisso a pré-venda já começou. Está sendo feita na loja do MAESTRICK que fica no site da Overload, nossa parceira e responsável pelo nosso merchandise oficial.
– Com o apoio da Frontiers Music, podemos esperar por uma turnê europeia mais contundente em 2025? Já existem planos ou conversas sobre uma turnê mundial para este novo álbum?
Fábio Caldeira – Com o apoio da Frontiers e a gerencia do nosso manager, Milton Mendonça, estamos organizando a melhor estratégia para a turnê do “Lunare”. Sobre shows internacionais, faremos nossa estreia nos EUA em setembro desse ano, tocando no ProgPower USA em Atlanta. Além disso, temos vários convites para festivais na Europa e outros na América do Norte, ainda esse ano e ano que vem. O que posso garantir é que temos a melhor e maior estrutura que já tivemos até hoje e estamos cem por cento focados em entregar um grande espetáculo nos shows. Então se você é um produtor e tem interesse em contratar o MAESTRICK, esse é o momento.
– “Agbara” é outra faixa de “Espresso Della Vita: Lunare”, que ganhou um videoclipe animado belíssimo. Nela encontrei ainda mais elementos étnicos e progressivos, o que muito me agradaram. Qual a importância que a música popular brasileira exerce sobre a sonoridade da MAESTRICK?
Fábio Caldeira – A música brasileira faz parte de quem somos. Seria injusto conosco e até com o público não expressarmos essa parte tão grande das nossas personalidades, das nossas essências. “Agbara”, portanto, é um movimento fluido em direção a nós mesmos e as raízes da nossa cultura. Tivemos a honra de termos a participação da nação de maracatu, Movimento Baque Mulher, que conhecemos em 2019 graças ao nosso amigo e produtor cultural na época, Eliton Tomasi, do Som do Darma, que sabendo da nossa inquietude artística, teve a ideia de convidá-las para participarem do nosso show no Abril Pro Rock daquele ano. Foi um momento tão marcante, intenso e verdadeiro que mantivemos contato com a Mestra Joana Cavalcante e o convite para que elas participassem do “Lunare” foi quase uma questão de honra. Elas tocaram e cantaram lindamente as partes de coro. Tivemos também a alegria da participação do Jim Grey, vocalista da banda de Prog Metal australiana Caligula’s Horse. O Jim foi tão incrível e dedicado que cantou com maestria até as partes em português.
– A MAESTRICK é uma das atrações confirmadas da edição 2025 do Bangers Open Air, que ocorrerá no próximo mês de maio. Quais as expectativas da banda para esta apresentação e o que os fãs podem esperar do setlist?
Fábio Caldeira – Ah, esse show será muito especial. A expectativa é a melhor possível! Será a estreia da turnê do “Lunare”, já que o disco será lançado dois dias antes, dia 02 de maio. Por essa razão, o repertório será focado nos Singles que já saíram até aqui e nas músicas dos dois primeiros discos. Garanto que será inesquecível!
– Fábio, novamente gostaríamos de agradecer por sua gentileza conosco. Aproveito para lhe parabenizar pelo trabalho à frente do MAESTRICK por tantos anos. Se algo mais ficou a ser dito, fique à vontade para as suas considerações finais…
Fábio Caldeira – Sou eu quem agradece. Não podíamos estar mais felizes e orgulhosos do “Lunare”. Ele representa o melhor de todos nós em muitos sentidos. É resultado de um trabalho em equipe constante e inabalável, que passa por muitas pessoas talentosas e incríveis. Posso citar nosso produtor, o grande Adair Daufembach, também responsável pela mix e master do disco, nosso manager, Milton Mendonça, nossa artista plástica Juh Leidl, a Gisele Turteltaub, que cuidou da nossa comunicação e foi responsável por tantas etapas que ficaria impossível pontuar aqui, o diretor Leo Liberti, as participações de todos os músicos que destaquei, faltando ainda o incomparável Tom Englund, vocalista do Evergrey, que fecha a trinca dos grandes artistas do Metal que participaram do disco, cantando na faixa “Boo!”. Temos ainda a atriz e cantora da Disney e da Broadway, Giulia Nadruz, que dueta comigo na faixa “Mad Witches”, o coral Sharsheret, de senhoras judias sobreviventes e parentes diretas de sobreviventes do Holocausto, cantando em ídich, na faixa “Dance of Hadassah”. Temos ainda nosso querido amigo e mestre dos teclados, Charles Soulz fazendo um solo lindo na música “The Root”, o coral “Lunare”, a Nina Guimarães, um naipe de metais, percussionistas, etc. Foi mais um trabalho onde pudemos dar nosso melhor e esperamos que vocês sintam todo o amor e empenho que dedicamos a mais esse capítulo da história do MAESTRICK e das nossas vidas. Uma boa viagem a bordo do “Espresso Della Vita” a todos e nos vemos nos shows! Muito obrigado!
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