Artista: Fabio Lione
Evento: Epic Tales Brasil Tour
Cidade/Estado/País: Teresina – Brasil
Local: Bueiro do Rock
Data: 25 de Janeiro
Ano: 2025
Produtora: Underground Produções

Com o anúncio da pausa nas atividades da banda Angra, que ocorrerá em breve, após a sua turnê em comemoração ao aniversário do álbum “Temple of Shadows” (2004), os seus músicos já começaram a se movimentar com seus respectivos projetos. E foi a partir desta premissa que o vocalista italiano Fabio Lione (Athena, ex-Vision Divine, Rhapsody of Fire) anunciou uma turnê, que englobará dezesseis cidades brasileiras, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2025.

Carregando o título de “Epic Tales Brasil Tour”, o cantor prometeu levar aos seus fãs algumas das canções que marcaram a sua carreira, além de diversas surpresas, um tanto quanto inusitadas. Então, pode esperar por temas do Rhapsody of Fire, Vision Divine, Angra e até do Kamelot, com a voz de peito mais conhecida do Power Metal mundial, atrelada ao seu já corriqueiro carisma.

Para acompanha-lo nesta empreitada, foram convocados os músicos da Enorion, até então verdadeiras incógnitas para mim. Formada no ano de 2015 em Tatuí, São Paulo, o grupo apresenta um Power Metal fincado na proposta artística dos anos noventa, então as referências vão desde Stratovarius até os próprios Angra e Vision Divine. De lá para cá lançaram apenas Singles, sendo o último de 2023 e que carrega o nome banda.

Uma vez colocados todos os ingredientes na panela, a equipe da The Ghost Writer Magazine foi conferir a apresentação do cara, no último dia 25 de janeiro, quando passou pela cidade de Teresina, capital piauiense. Agendado para a tradicional casa de shows Bueiro do Rock, o evento estava cercado por diversas das melhores expectativas, ainda que a ameaça de chuva estivesse causando certa apreensão em todos os presentes.

O Bueiro do Rock é um local excelente para eventos desta natureza, porém, parte das suas dependências é a céu aberto, ficando a mercê do fator climático, para que tudo ocorra bem. Próximo ao palco, contudo, tem uma boa área coberta, ainda que não suporte acomodar o público integral, no caso de um espetáculo sold out. Mas, e aí meu caro? Dá para parar de enrolar e me dizer se choveu ou não?! Sim, choveu (e choveu muito!), mas os quase duzentos pagantes foram devidamente abrigados no local.

Pouco antes do aguaceiro, a Enorion começou o seu curto set com as autorais “Enorion”, “Time to Understand” e “Wait for Sleep”, todas elas bem interessantes e que são bem fundamentadas no Power Metal, como já mencionado. Os rapazes são competentes e a qualidade das suas canções é tão latente, que me veio o questionamento do porque esses caras não terem um álbum lançado.

O baixista Lucas Bernardes (Krull, ex-Anama, Setfire) e o seu baixo de seis cordas foram dois dos destaques. Com uma excelente presença de palco, o cara soube chamar para si a atenção das pessoas, com a sua técnica e simpatia. Outro que não pode ser esquecido é o vocalista Felippe Castelo, que tem um timbre muito agradável e que se saiu muito bem como frontman em cena. Ponto positivo para ambos, e que a constância de atuações seja a força motriz para que a dupla evolua mais e mais.

Mas como nem tudo são flores, a segunda metade da apresentação da Enorion foi bem inconsistente. Continuaram com o cover de “He-Man”, lançada originalmente pelo Trem da Alegria na década de oitenta. Dispensável, mesmo que dentro de uma roupagem Power Metal, acabou tomando um valioso espaço, que poderia ter sido preenchido por outra música de sua autoria. Na sequência vieram “Pegazus Fantasy”, do anime “Cavaleiros do Zodíaco”, e “Eagle Fly Free”, clássica dos alemães do Helloween presente no álbum “Keeper of the Seven Keys Part I” (1987).

Com a Enorion tendo se despedido, as portas do céu foram abertas e o que se viu foi uma chuva torrencial absurda, que durou cerca de quarenta minutos. A plateia se amontoou na frente do palco, causando enorme desconforto, para esperar pacientemente a atração principal, que só veio a dar o seu ar da graça às 22h. Isso mesmo, duas horas após o anúncio de início do evento. E foi com um vento frio, se chocando com o ar quente bem típico de Teresina, que vimos Fabio Lione no backstage lateral saboreando um bom vinho e fumando o seu cigarro. Não demorou muito para que todos berrassem pedindo pelo início do seu compromisso conosco, que aconteceu logo em seguida.

Com a breve introdução “Lux Triumphans” sendo executada nos PAs e com os instrumentistas da Enorion novamente se posicionando, Fabio Lione entrou com muita força com as clássicas “Dawn of Victory” e “Land of Immortals”, ambas do Rhapsody of Fire da sua época. Não demorou muito para entendermos que ele dividiu o seu show em dois blocos, sendo o primeiro deles focado no catálogo do projeto do seu conterrâneo Alex Staropoli. E foi nesta toada que conferimos de perto “Holy Thunderforce”, “Emerald Sword” e “Wisdom of the Kings”.

Sempre muito comunicativo, Lione não se furtou de contar diversas histórias que vivenciou durante a sua longeva carreira. Antes de “Unholy Warcry”, por exemplo, nos relatou como conheceu o saudoso ator Christopher Lee nas gravações do videoclipe da canção. Tudo isso no bom e velho português, prova de que os seus tempos junto ao Angra trouxeram muita bagagem cultural. Além dela, “Emerald Sword” foi mais um alvo das divagações do vocalista, quando mencionou que ela foi criada ao acaso, meio que para ser algo despretensioso, como ocorreu com “Smoke on the Water” do gigante Deep Purple. Uma diversão extra, tenho que concordar.

Com o final da primeira parte, Lione resolveu rememorar algumas das clássicas do Angra, e aqui preciso deixar bem clara a minha principal crítica, relacionada a algo que me incomodou muito. Para começo de conversa, as escolhidas foram “Rebirth”, “Nova Era” e “Bleeding Heart”, todas elas de uma fase que não lhe pertence. Acredito que os fãs, assim como este que vos escreve, esperavam por músicas como “Newborn Me” e/ou “Final Light” de “Secret Garden” (2014), “Travelers of Time” e/ou “Insania” de “Ømni” (2018), ou até do mais recente “Cycles of Pain” (2023) com a belíssima “Tide of Changes”, mas não foi isso que ocorreu.

Obviamente a trinca do Angra foi bem recebida por todos, com “Rebirth” sendo entoada em uníssono e “Bleeding Heart” com o público cantando-a em português, replicando a já popularizada letra da versão do Calcinha Preta. Contudo, “Nova Era” não foi nada bem! Era visível o desconforto de Lione nela, principalmente no refrão e nas partes mais altas. Eu sinceramente espero que ele reveja a escolha destas músicas do Angra, para que tudo se torne mais coerente e confortável para ele nos futuros shows.

O repertório continuou com “Send Me An Angel” e “Violet Loneliness” do Vision Divine. Aí sim o cara retomou as rédeas do jogo e levou este redator ao êxtase, principalmente com a segunda e o seu refrão pegajoso. Daí para a frente ele homenageou diversas bandas que são algumas das suas influências, como Scorpions, Kamelot com uma composição que é de sua autoria, Europe, Iron Maiden e até Andrea Bocelli com “Con Te Partirò” que, assim como ocorreu em “Rebirth”, contou com a participação especial de Felippe Castelo (Enorion) dividindo as linhas de vozes.

Antes mesmo do final de “Wasted Years” do Iron Maiden, Fabio já começava a se despedir dos seus admiradores, com a sensação de dever cumprido. E de fato, cumpriu mesmo! Apesar das orquestrações terem ficado praticamente inaudíveis durante toda a apresentação, prejudicando (e muito) o trabalho do tecladista Rafael Braz, o entretenimento gerou muita euforia e diversão de uma maneira generalizada. Eu mesmo, não vi ninguém torcendo o nariz, e esse é um sinal muito bom. Aparando algumas arestas, como a crítica que mencionei nas escolhas das músicas do Angra, e uma maior atenção com o volume das orquestrações, este giro tem tudo para ser o primeiro de muitos em nosso amado Brasil.

Setlist Enorion:

01. Intro
02. Enorion
03. Time to Understand
04. Wait for Sleep
05. He-Man (Trem da Alegria cover)
06. Pegazus Fantasy (Anime cover)
07. Intro
08. Eagle Fly Free (Helloween cover)

Setlist Fabio Lione:

01. Lux Triumphans (Rhapsody of Fire cover)
02. Dawn of Victory (Rhapsody of Fire cover)
03. Land of Immortals (Rhapsody of Fire cover)
04. Wings of Destiny (Rhapsody of Fire cover)
05. Holy Thunderforce (Rhapsody of Fire cover)
06. Emerald Sword (Rhapsody of Fire cover)
07. The Magic of the Wizard’s Dream (Rhapsody of Fire cover)
08. Wisdom of the Kings (Rhapsody of Fire cover)
09. Unholy Warcry (Rhapsody of Fire cover)
10. Lamento Eroico (Rhapsody of Fire cover)
11. The Village of Dwarves (Rhapsody of Fire cover)
12. Rebirth (Angra cover)
13. Nova Era (Angra cover)
14. Bleeding Heart (Angra cover)
15. Send Me An Angel (Vision Divine cover)
16. Violet Loneliness (Vision Divine cover)
17. Still Loving You (Scorpions cover)
18. Forever (Kamelot cover)
19. Con Te Partirò (Andrea Bocelli cover)
20. Carrie (Europe cover)
21. Wasted Years (Iron Maiden cover)