Artista: Immolation (Estados Unidos)
Evento: Extinguishing Light Brazil Tour
Cidade/Estado/País: Fortaleza – Brasil
Local: Hard Noise
Data: 05 de Junho
Ano: 2025
Produtora: Tumba Produções
Eu mal havia me recuperado das maratonas do Bangers Open Air e Monsters of Rock, quando a Tumba Produções anunciou a primeira turnê dos norte-americanos do Immolation, em solo brasileiro. Batizado de Extinguishing Light Brazil Tour, o giro foi confirmado com nove datas, englobando algumas das principais capitais do nordeste, como Fortaleza, Natal, Salvador e Recife, além de Goiânia, Uberlândia, Belo Horizonte, Ribeirão Preto e o grande encerramento em São Paulo, no próximo dia 15 de junho.
Novamente por questões de logística, optamos mais uma vez por marcar presença em Fortaleza que, meses antes, nos entregou nomes como Suffocation, Samael e Rotting Christ. Por sinal, é muito gratificante como nordestino que sou, poder ver o Ceará se tornar rota oficial de grandes turnês, de alguns dos maiores nomes do Metal mundial. Desejo, inclusive, que tal constância de eventos desse porte, se torne realidade para a já citada Salvador, minha cidade natal e que nunca em sua história, teve esse tipo de reconhecimento.
O início da Extinguishing Light Brazil Tour se deu justamente em Fortaleza, no último 05 de junho, em plena quinta-feira. Um dia ingrato da semana, eu sei! Mas eu estava confiante que a força que a veterana Immolation ostenta, pudesse levar um bom número de fãs para a desconhecida Hard Noise. E, de fato, a banda conseguiu fazer com que cerca de duzentos fãs saíssem das suas residências, para conferirem presencialmente toda a solidez técnica proposta por Ross Dolan (baixista e vocalista), Robert Vigna (guitarrista), Alex Bouks (guitarrista) e Steve Shalaty (baterista).
A nossa equipe, da The Ghost Writer Magazine, chegou antes do horário estipulado pela produção (19h), para o início dos trabalhos. Todos estavam ansiosos para conhecer a Hard Noise, já que as nossas experiências anteriores na cidade foram maravilhosas, com estruturas dignas da importância dos artistas. Contudo, infelizmente, o local escolhido para receber o Immolation nos decepcionou bastante. Mas calma, que já vou argumentar sobre o tema.
A fachada do estabelecimento, com pouca iluminação, já denunciava que o nível estava bem abaixo do que constatamos no Ophera Music Bar e Armazém 14, nas nossas últimas coberturas. Ao entrarmos, passamos por um longo corredor, também mal iluminado, com o piso irregular e que me deu a impressão dali ter sido um estacionamento, antes de se tornar um espaço para eventos. Ao final do tal corredor, vimos no lado direito, um restrito espaço coberto com as mesas de merchandising montadas e, mais à frente, um pequeno palco com pouca iluminação e dois PAs bem modestos.
Não preciso nem dizer que o público estava, mais uma vez, à mercê do inconstante São Pedro dos católicos, já que todo o restante do ambiente não tinha qualquer tipo de cobertura ou proteção. O serviço de bar estava sendo gerenciado por uma família, com preços acessíveis, o que tornou as horas que passamos lá menos insalubres. Os dois banheiros tinham fácil acesso, mas que careciam de espaço físico, isso levando em conta que o Hard Noise é um local que caberia facilmente entre trezentas e quatrocentas pessoas. Não tivemos problemas, mas se pelo menos mais cem indivíduos estivessem ali, a situação ficaria bastante desconfortável, principalmente para as mulheres.
Antes do show da Sysyphus ter início, fomos até a área de menchandising e lá encontramos o sempre simpático e solícito Edu Lane, baterista do Nervochaos e responsável pela turnê. Conversamos bastante e acabei gastando uma boa quantia em dinheiro, angariando os álbuns que faltavam para fechar a minha coleção do Nervochaos, além, obviamente, dos dois modelos de camisetas disponíveis, para guardar de recordação da tal empreitada.
Com a casa ainda bem vazia, não tendo nem vinte cidadãos presentes, a excelente Sysyphus começou o seu set. Não consegui esconder o meu descontentamento com a falta de apoio do público cearense, com relação a sua representante. Sei que era uma quinta-feira, que muitos estavam trabalhando ou presos no trânsito, mas eu achei um verdadeiro absurdo ter menos de vinte cabeças lá, para apoiar o grupo. Enfim, desabafo feito, espero sinceramente que, em uma próxima oportunidade, as pessoas se programem melhor para dar o devido valor aos que estão na batalha.
Eu não conhecia a Sysyphus, então eu não estava esperando nada vindo da banda. O grupo está na ativa desde 2021 e está promovendo seu único registro, o álbum “Absurd” (2023). E foi justamente com duas dele que o seu pontapé inicial foi dado, com as ótimas “Oneness and Dispersion” e “Delusional Mimesis”. A partir delas comecei a entender a proposta, que nada mais é do que um Death Metal técnico, com variações rítmicas bem eficientes, passagens mais modernas e muita velocidade. Tenho que confessar que fiquei muito satisfeito ao ver um nível alto de maturidade musical, bem ali na minha frente, de caras completamente desconhecidos para mim.
Como prévia do novo álbum, que deverá ser lançado ainda em 2025, a Sysyphus nos trouxe “Oran” e “Rieux”. Achei que as duas mantiveram o direcionamento das canções de “Absurd”, o que acabou comprovando que o quarteto já possui uma assinatura própria, mesmo que com poucos anos de carreira. Outro destaque atendeu pelo nome de “Fortress of the Absurd”, última do debut e que serviu como encerramento perfeito para a sua contribuição na Extinguishing Light Brazil Tour. E, para fazer justiça, naquela altura já tínhamos perto de cem headbangers no recinto, o que acabou por servir para atenuar a minha chateação inicial.
Sempre olhando para cima, com medo de qualquer sinal de chuva! Foi assim que me comportei até que a introdução da Nervochaos invadisse os PAs. Por mais incrível que possa parecer, eu nunca tinha presenciado um show deste trio insano, que já está girando o mundo todo, levando a bandeira do Death Metal brasileiro. Estava em dívida, mas que foi devidamente sanada com os primeiros momentos da instrumental “Necroccult” de “Ablaze” (2019). “Demonic Juggernaut” e “Ritualistic” vieram na sequência e demonstraram o quanto estar constantemente na estrada, pode fazer bem ao entrosamento de uma banda. Tudo aqui no seu devido lugar, sem espaços para buracos ou deslizes ocasionais. Excelente!
Edu Lane sempre preciso, apesar de contido, respeita as composições como elas foram concebidas. O cara parece um relógio, tanto que não senti alternâncias na velocidade dos andamentos, e olhe que músicas como a clássica “Pazuzu is Here” de “Battalions of Hate” (2010), “Total Satan” e “Dragged to Hell”, são verdadeiros convites para qualquer baterista apertar o passo. Mas aqui não! A sensação é que eu estava ouvindo uma coletânea “best of”, pré-gravada, bem ali na minha frente, tamanha a precisão dos caras.
Diego Mercadante (vocalista e guitarrista) e Daniel Corvo (baixista) completam o time. Ambos se esforçaram bastante, buscando a interação do público, que já estava bem próximo do seu ápice quando “Mark of the Beast” e a provocativa “For Passion Not Fashion”, de “The Art of Vengeance” (2014), foram entoadas. Essas últimas precederam o desfecho que ocorreu com “Moloch Rise” e “To the Death”, essa segunda do homônimo de 2012. A despedida se deu com efusivos agradecimentos aos presentes, menções aos irmãos do Immolation e a promessa de um breve retorno ao nosso querido e amado nordeste.
Quando o Nervochaos deixou o palco, percebi uma movimentação na já citada área do merchandising. Fui ao local e me deparei com os caras da Sysyphus, que haviam anexado uma nova mesa, para inserir os seus produtos. Então pude parabenizar o baixista e vocalista Felipe Ferreira pela apresentação, para em seguida ser presenteado por ele com uma cópia de “Absurd”. Já estou escutando o álbum e, muito em breve, minhas impressões poderão ser conferidas neste mesmo portal.
Portando a minha cópia de “Absurd” debaixo do braço, me aproximei ao máximo do palco, quando vi os próprios caras do Immolation regulando os seus instrumentos, bem na frente de todos. Sem qualquer tipo de cerimônia e esbanjando simplicidade, o quarteto ali estava trabalhando e interagindo com alguns fãs, em um clima sempre convidativo. Todavia, a coisa toda mudou com o início da introdução “Abandoned”, do mais recente “Acts of God” (2022), que nos ajudou a lembrar que estávamos todos ali, para recebermos cargas de peso e densidade, típicas do bom e velho Death Metal estadunidense.
“The Distorting Light”, primeira faixa de “Atonement” (2017), surpreendeu a todos! Tenho que admitir que fiquei surpreso pela não execução de “An Act of God”, segunda música do já mencionado “Acts of God”. Tal desvio de rota veio como um soco no estômago, já que o que vinha daquele minúsculo palco, de iluminação praticamente inexistente, foi uma massa sonora que passou por cima dos bangers como um rolo compressor. Aliás, poucas vezes presenciei um show que foi tão direto ao ponto! Ali estavam apenas quatro caras, com instrumentos plugados mandando ver, sem qualquer tipo de cenário que pudesse gerar pudor ou constrangimento.
“Kingdom of Conspiracy”, que também carrega o título do álbum de 2013, foi mais uma muito bem recepcionada, mesmo que o puro suco do Death Metal esteja nos álbuns da década de noventa. Aliás, ao anunciar uma viagem ao passado, Ross Dolan deixou claro que “Dawn of Possession” (1991) e “Here in After” (1996), receberiam uma atenção especial. E foi apontando para um fã que ostentava uma camiseta de “Here in After”, que os caras despejaram sequencialmente as clássicas “Nailed to Gold”, “Burn with Jesus” e a faixa-título. Aquele foi um bloco que me fez lembrar o porque amo tanto o Metal Extremo. Simplesmente avassalador!
O guitarrista e membro fundador do Immolation, Robert Vigna, também não pode ser esquecido. Com a sua já habitual atuação, que não se furta em movimentar o seu instrumento para frente e para trás constantemente, por muitas vezes roubou a atenção das pessoas para si. Responsável também pelos solos, o cara elevou ainda mais o nível técnico in loco, sempre que exigido e acompanhado pelo seu parceiro das seis cordas, Alex Bouks. Em canções como “The Age of No Light” e “A Glorious Epoch”, que já são muito complexas, a impressão que se deu foi que ao vivo adquiriram novas camadas e texturas. Excelente, mesmo!
“Higher Coward”, primeira de “Close to a World Below” (2000) a ser apresentada, impregnou todo o ar com o seu cheiro típico de enxofre. Que composição, meus amigos! Inclusive, algumas rodas bem tímidas, começaram a aparecer justamente nela! Mais do que merecido, tendo em vista que “Close to a World Below” é um dos trabalhos mais celebrados por quem idolatra o gênero. Eu ainda estava bastante atordoado após o encerramento de “Higher Coward”, quando Ross Dolan anunciou a segunda trinca da noite, que rememorou “Dawn of Possession”. Já peço desculpas ao paciente leitor, mas para este ponto aqui, precisarei de um parágrafo exclusivo, que segue logo abaixo.
É de conhecimento geral que onze entre dez fãs de Death Metal, idolatram a obra “Dawn of Possession”. Estou me referindo aqui a um álbum atemporal, que foi fundamental para moldar um segmento musical inteiro, ajudando-o a ser desenvolvido no decorrer das décadas seguintes. Ou seja, ter a oportunidade de estar bem perto de Ross e Robert, enquanto executavam “Into Everlasting Fire”, “Those Left Behind” e “Internal Decadence”, foi um verdadeiro privilégio. Então admito a dificuldade por não conter a minha empolgação, já que fui transportado direto para a década de noventa, quando estava dando os meus primeiros passos na cena, com esses hinos sendo a trilha sonora da minha vida! Só me resta agradecer…
Já estávamos chegando ao final, quando um grupo de fãs levantou alguns encartes dos seus CDs, para um satisfeito Ross Dolan parar o cronograma e atendê-los. É isso mesmo, você não leu errado! O cara interrompeu o show para atender seus mais fieis seguidores, demonstrando mais um pouco de empatia e humildade. Foi então que “When the Jackals Come” (mais uma de “Atonement”), “No Jesus, No Beast” do icônico “Failures for Gods” (1999) e “Apostle” de “Acts of God” serviram como desfecho, para o início de uma turnê que prometia ser um verdadeiro sucesso de crítica e público.
Ainda fomos contemplados com um bis, com a introdução “As the Flames Wept” precedendo “Father, You’re Not a Father”, novamente de “Close to a World Below”. Dar um ponto final, com um dos meus álbuns favoritos da sua discografia, foi para espantar o cansaço das mais de dez horas que percorri para vê-los. Estava exausto, mas feliz e satisfeito, consegue me entender?! É por isso que o Metal sempre será o gênero musical mais cativante de todos, sem sombra de dúvidas!
Mesmo com as críticas aqui apresentadas, quanto a estrutura não ser a ideal para um artista do porte do Immolation, não dá para dizer que o saldo foi negativo. Três bandas altamente profissionais no palco, cada uma trazendo a sua respectiva leitura do Death Metal, demonstrando que o estilo possui extensa variedade estrutural. Saio novamente feliz de Fortaleza, já esperando o dia do meu retorno e reencontro com uma das capitais mais abrasivas do nordeste do Brasil. E antes que eu me despeça, em definitivo, gostaria de agradecer a gentileza do baterista Steve Shalaty, que nos entregou em mãos o setlist impresso que utilizou poucos minutos atrás. Nos vemos na próxima…
Immolation Setlist:
01. Abandoned (Intro)
02. The Distorting Light
03. Kingdom of Conspiracy
04. Nailed to Gold
05. Burn with Jesus
06. Here in After
07. The Age of No Light
08. A Glorious Epoch
09. Higher Coward
10. Into Everlasting Fire
11. Those Left Behind
12. Internal Decadence
13. When the Jackals Come
14. No Jesus, No Beast
15. Apostle
16. As the Flames Wept (Intro)
17. Father, You’re Not a Father
Nervochaos Setlist:
01. Necroccult
02. Demonic Juggernaut
03. Ritualistic
04. Pazuzu is Here
05. Total Satan
06. Dragged to Hell
07. Feast of Cain
08. Shadows of Destruction
09. Mark of the Beast
10. For Passion Not Fashion
11. Moloch Rise
12. To the Death
Sysyphus Setlist:
01. Oneness and Dispersion
02. Delusional Mimesis
03. Oran
04. Rise and Fall of Sisyphus
05. Embracing Solitude
06. Rieux
07. Fortress of the Absurd
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