Poisonous – O veneno que escorre nas veias do Death Metal
Postado em 05/01/2023


Sempre acompanhamos de perto o trabalho do batalhador Alex Rocha, desde os primórdios da sua carreira, quando projetou a Impetuous Rage para o topo da cena underground nacional. Com o fim das atividades desta, o baterista prontamente recrutou novos músicos para então trazerem à vida a POISONOUS. Sempre fiel ao seu background focado no Death Metal, Alex mantém inalterado todo o seu embasamento ideológico, entregando novamente à cena um projeto condizente com as raízes do gênero. Fomos bater um papo com o cara, tendo como objetivo passar à limpo a sua trajetória, mas obviamente, tendo como tema central todo o seu trabalho na condução deste novo tanque de guerra deathmetálico.

– A POISONOUS foi fundada no ano de 2008, após o encerramento das atividades da Impetuous Rage. Por qual razão vocês optaram por seguir este caminho? Pergunto isso, porque a formação anterior tinha lançado um excelente debut álbum “Inverted Redemption” em 2007.

Alex Rocha – Saudações aos amigos da The Ghost Writer Magazine! Muito obrigado pelo grandioso suporte de sempre, e todos vocês sabem que são nossos irmãos de batalhas! Gostaria também de saudar aos amigos, parceiros, apoiadores!!! Bem, naquela ocasião nós estávamos com uma formação estabilizada há algum tempo e isso parecia que seria duradouro, algo que infelizmente veio a cair por terra e os outros caras seguiram os seus destinos. Mas retornando ao tema central da pergunta, naquele momento achávamos que seria a melhor coisa a se fazer, mesmo o Impetuous Rage já tendo um nome estabilizado, porque as músicas que estavam nascendo nos pareciam soar um pouco diferente das antigas do Impetuous Rage. Então basicamente foram esses os motivos, sendo assim, aqui estamos nós hoje catorze anos depois, intactos em nossa essência e com objetivos traçados para tomar o mundo de assalto com o nosso Death Metal obscuro. Darkness Reigns Supreme!!!

– A primeira Demo Tape deste novo grupo não tardou a sair já em 2009. Homônima, ela continha três sons. Além da inédita “Poisonous”, a intro “Horror Instinct”, trouxe uma matadora versão para “The Black Vomit” do Sarcófago. Qual foi a repercussão deste material na época? Eu peguei alguns shows nesta fase, e vocês já eram muito intensos ao vivo.

Alex Rocha – Nossa Demo nos proporcionou uma investida direta ao que há de mais underground e real em se tratando do cenário Death Metal mundial! Logo começamos a tocar aqui em nossa cidade natal e ser citados e entrevistados por zines imundos de toda parte do inferno terrestre, a exemplo do Necroscope, Downtuned & Morbid zine, Necromaniac, o que chamou a atenção do selo Blood Harvest da Suécia. Então fechamos a liberação do nosso primeiro disco, o aclamado por muitos, “Perdition’s Den”!!! Tenho boas lembranças dessa época de caos e terror.

“Perdition’s Den”, seu debut álbum, foi lançado em 2010 cercado das mais altas expectativas, por conta da ótima impressão que a Demo “Poisonous” causou na cena. Acredito que tais expectativas foram supridas, pois esse material recebeu diversas versões lançadas no mundo inteiro, além de garantir uma estruturada agenda de shows. O que você pode nos falar sobre este álbum, e o que ele representa para vocês? Quais foram os pontos altos da banda neste período de promoção do disco?

Alex Rocha – Com esse disco nos foi proporcionado realizar uma grande meta nossa que era ter nossos materiais liberados em vinil! Nessa época era um marco alcançar tamanha proeza, pois, era a época dos mp3 e CDs. Lembro-me que era uma raridade encontrar esse formato em bandas brasileiras e poucas conseguiam isso, ainda mais por um selo grande como o Blood Harvest que na ocasião citada era o grande responsável por liberar bandas como Unholy Lust, Bastard Priest, Nominon, Bombs of Hades, Coffin Texts, Karnarium, Magnanimvs, Infinitum Obscure, Godless, Necrovation, Voids of Vomit, ou seja, uma imensa gama de bandas que configuravam e configuram até hoje no cenário do Death Metal mundial. Então, foram superadas todas as expectativas possíveis e isso alimentou mais ainda a minha visão de ter uma banda de Death Metal podre nesse mundo de merda, onde o caos, o terror e a desolação reinam supremos desde sua concepção maldita! Salve os ventos gelados do vale da perpétua agonia aterrorizante! Vale salientar que a nossa Demo foi liberada no formato 7 EP, configurando uma versão die hard no lançamento do “Perdition’s Den” e foi também o período quando tocamos ao lado do Benediction, Queiron, Assassin (nós somos muito gratos a vocês por isso) e Mystifier!

– Sucedendo “Perdition’s Den”, já em 2014, fomos surpreendidos com o lançamento de “Death Apparitions of Damned Souls”, Split com os norte-americanos do Daemonic. Por qual razão optaram por este formato de trabalho para dar seguimento à carreira? A POISONOUS já conhecia o Daemonic ou existiu alguma ponte da gravadora para sacramentar esta união?

Alex Rocha – Pergunta interessante, meu velho amigo! Observe que algumas bandas não consolidam sua trajetória por pular essas etapas que são certas para que a base, a fundação, o alicerce das mesmas sejam consolidados com o passar do tempo. Poucas entendem isso e está tudo certo, cada um tem sua visão do negócio como um todo mas, para nós, ter uma Demo Tape, um Split, um compacto em nosso currículo, são pontos indiscutíveis e primordiais na minha visão e de muitos que, assim como nós, trilham esse caminho. Não estamos aqui de passagem ou brincadeira. Um dia nossa história será contada e nós estamos escrevendo-a agora. Exposto essa linha de pensamento, logo que iniciamos nossa caminhada muitos que assim como nós compactuam da mesma visão, quiseram unir forças nessa longa trajetória e então despertamos o interesse de amigos, selos, bandas e metalheads desse meio. O resultado é o grandioso “Death Apparitions of the Damned Souls”, liberado primeiramente em vinil e logo depois em CD, nas versões regular e digipack pelos selos Crypts of Eternity, Dark Recollections e sim, todos nós somos grandes amigos! Eu, Frank (Daemonic), Ricardo da Crypts of Eternity e Jimmy Sanchez da Dark Recollections! Jimmy, eu tive o prazer de conhecer pessoalmente em 2013 na Cidade do México quando lá estive na ocasião com o Mystifier.

– Alex, impossível conversar com você e não citar o tempo que você assumiu as baquetas do Mystifier. Neste período, atuando paralelamente ao POISONOUS, você pôde rodar o mundo, tocando ao lado de diversas lendas do Metal Extremo. O que você poderia nos destacar neste período de sua carreira? Imagino que você fez grandes alianças, mas também deve ter ocorrido diversos problemas. Poderia dividir conosco alguns episódios desta sua fase como músico?

Alex Rocha – Os problemas são superados e, como sempre, em uma escala de comparação ficam de longe abaixo de todo o esforço, empenho e verdade doados em prol de uma causa verdadeira, independente de qual bandeira eu esteja erguendo naquele momento. Lógico que eu sou do POISONOUS, mas também antes de tudo, eu faço parte do cenário de onde eu venho e o Mystifier, assim como o Headhunter D.C., Slavery, Malefactor, Mortius, Shadows, Necrolust, The Cross por onde também pude conduzir a bateria em duas ocasiões e tantas outras de mesmo valor, são influências desde o início da minha trajetória nos anos 90. Dito isso, as partes boas desse período com certeza foram as amizades, os lugares, as alianças, os shows, as comidas e principalmente respirar e viver a fundo o que realmente eu sou de verdade. Eu sou muito grato por tudo e, olhando pra trás, eu sinto orgulho de tudo que foi feito! A caráter de curiosidade e reconhecimento, para um grande orgulho meu, por diversas vezes nessas andanças eu fui reconhecido e tive a minha pessoa destacada não só por está lá com o Mystifier, mas, também, por ser Alex Rocha do POISONOUS. Me lembro de algumas ocasiões como na Itália, Angelo do Voids of Vomit, que foi nosso manager naquele país, ao nos encontrar pela primeira vez, entrou no quarto do hotel falando: “Antes de tudo eu gostaria de falar com Alex do POISONOUS…”, realmente são coisas que não são impostas e sim conquistadas! Tiveram vários exemplos desses por onde eu estive. Realmente eu não estava lá a passeio e sim a trabalho. Como sempre eu encaro isso aqui, com muita responsabilidade e dedicação.

– A cena extrema de Salvador sempre passou por altos e baixos, principalmente no que se refere a falta de estrutura para eventos, pouca adesão do público para bandas locais e, principalmente, a violência desenfreada promovida por alguns. Como a banda avalia o atual cenário baiano? Algo mudou para melhor, de uma década atrás para cá?

Alex Rocha – Salvador de certa forma retrata o que é o Brasil. Um país de dimensões continentais com uma desigualdade educacional, financeira e estrutural de tamanhos relevantes, tais quais são as suas fronteiras. Lembro-me nitidamente dessa fotografia esplanada quando eu chegava aqui (por diversas vezes isso aconteceu) de avião e, ao olhar pela janela, eu via uma vasta área com comunidades carentes, sofridas e humildes ao lado de grandes arranha-céus e toda a sua pompa de riqueza ilusória. Na real, não existe aquela coisa de eu estar bem, tendo o meu irmão do lado na miséria. É tudo miséria quando se vê a coisa de uma forma macro. Quando se conhece outra realidade como eu conheci, isso é uma certeza pra ser bem redundante. Pô, você ser mendigo na Suíça é melhor do que você ser engenheiro no Brasil! Com todo respeito aos engenheiros, mas, isso é uma realidade. Nós costumamos atrelar o bem estar somente a quantidade de dinheiro que temos e, isso é facilmente perdido, quando se conhece uma outra realidade de convivo social pleno e máximo no quesito “nível de excelência”. O que eu quero chamar a atenção com essa explanação é de que nós somos um povo sabotado, desde as nossas origens e existe método nisso. É interessante para poucos manter-nos sem instruções e coagidos e, isso é feito por leis que oprimem pobres e beneficiam ricos! Então é até compreensível, mas não aceitável, que o nosso meio seja violento, injusto e precário, percebe? Bom, dito isso, o nosso cenário local é reflexo de toda essa desigualdade, ainda mais sendo uma cultura que sofre de preconceito, assim como tantas outras que fogem da padronização do que nos é imposto como aceitável. Acredito que no momento em que o mundo se encontra hoje, com guerras e peste, nada em nossas vidas tenderá a melhorar e eu acredito que um cenário visto em filmes como “Mad Max”, possa se tornar uma realidade não tão distante assim. O mundo caminha a passos largos para a sua auto destruição.

– Em 2017 a banda nos brinda com o lançamento do EP “Coronation”, no formato de vinil e que contou com as músicas “Unmerciful Coronation” e “Darkness Reign Supreme”. Como foi o suporte da gravadora Crypts of Eternity Productions à vocês e como foi a repercussão deste material no cenário?

Alex Rocha – Esse material é o primeiro que tem apenas eu remanescente da formação original. Foi um momento de incertezas com relação ao que iria acontecer, quero dizer, em como a banda seria recebida pelas pessoas que sempre nos acompanharam e eu acredito que o resultado tenha sido satisfatório, aja vista, o feedback que recebemos. Ele é um disco curto, um compacto sombrio, denso e escuro como a vastidão negra do universo. O espetáculo que sugere o mistério do cosmos foi o que tentamos condensar e expressar em “Coronation”, ou seja, explosões nucleares, extinções de estrelas, mundos diversos, conhecimentos ocultos e arrebatamento da matéria pulsante. Death Metal e nada mais!!!! Esse material foi distribuído pela Crypts of Eternity para selos com know-how estabelecido e mundialmente atuantes no meio underground, o que nos facilitou espalha-lo nos lugares certos. Conseguimos com ele elevar o padrão da banda e consolidar nosso nome ainda mais no cenário.

– Ainda em 2017, para promover o EP “Coronation”, a banda partiu para um importante giro pela América Latina. O que você pode nos falar sobre essa experiência? Por quais países a POISONOUS passou e como foi a aceitação dos nossos hermanos ao seu trabalho?

Alex Rocha – Existem certas coisas que marcam a pessoa para o resto de sua vida! Um filho, o primeiro disco, sua primeira bateria, a conquista do grande amor da sua vida, enfim, coisas de grande apelo emocional, conquistas marcantes e, como não poderia ser diferente, esse giro entra nesse parâmetro por ter sido a primeira vez que o POISONOUS aportou em terras internacionais. Mesmo com o fato de que tocar em outros países não tenha sido uma novidade em minha vida, foram praticamente mais de quinze países diferentes, e nesta ocasião foi algo especial e particular! Sabe a comparação entre dois filhos? Então, é disso que estou falando, mas, saindo agora do campo emocional e partindo para o campo prático da coisa, nós fomos ao Chile em março de 2017 para dois concertos memoráveis em nossas vidas! Tocamos na capital Santiago e em Valdivia, ao lado de bandas como Force of Darkness, Porta Daemonium, Absolute Cruelty e In Nomine. Foram noites infernais! As bandas, os bangers, a produção e tudo mais que estava a cerca desse giro funcionaram perfeitamente como que em uma erupção de proporções catastróficas. Os shows estavam lotados e por lá passaram pessoas de muitos outros países. Realmente foi uma celebração!

– Infelizmente é muito comum as várias mudanças de formação, ainda mais quando nos referimos às bandas do nosso underground. Raros são os casos de formações que perduram por toda uma carreira, vide o exemplo do Krisiun. Atualmente, quem está à frente do POISONOUS?

Alex Rocha – Antes de tudo, eu queria dizer que sou muito grato a todos aqueles que, um dia, somaram seus esforços comigo para que juntos pudéssemos consolidar o legado do POISONOUS! Todos eles foram fundamentais e aqui fica todo meu respeito e agradecimento. Eu acho que a vida é feita de momentos. Até mesmo com nossos familiares, pais, filhos, que são laços eternos, chegam certos momentos da vida que nos afastamos. Um filho que casa ou vai estudar em outro país, é um exemplo disso. Quebrar aquela constância de uma convivência diária, é algo normal e não seria diferente em uma banda, onde as pessoas estão mais suscetíveis a mudarem de sintonia e metas. Faz parte do jogo. Bom, me referindo agora a formação atual da banda, eu acredito que não preciso falar muito sobre meus irmãos! São caras centrados, competentes e que sabem o que querem pra si. Todos nós já passamos da casa dos quarenta anos e estamos nessa caminhada há bastante tempo, então, é meter pau na máquina e fazer chover enxofre nessa terra desolada! Hoje o POISONOUS conta com Black Sin (Grave Desecrator) nos vocais e guitarras, Lord Vlad (Malefactor, Born in Black) no baixo e eu na bateria. Nós estamos procurando um segundo guitarrista pra compor a line-up. As músicas novas precisam de outra guitarra, mas, até agora não apareceu a pessoa certa com o perfil da banda. Se você aí que está lendo essas palavras e, acredita que possa somar com a gente nessa caminhada infernal, nos procure e seja bem vindo ao inferno!

– Fomos informados que vocês estão em avançado processo de gravação do seu novo EP. O que você pode nos adiantar sobre este trabalho?

Alex Rocha – Agora neste exato momento que eu estou respondendo essa entrevista, ele se encontra totalmente finalizado, com a capa pronta e com tudo planejado. Clipes, lyric videos, processo de divulgação traçado e apenas faltando fechar com um selo, ou selos, que queira(m) unir forças com a gente. Para isso já temos alguns contatos e algumas perspectivas sobre essa questão, mas nada de concreto. Provavelmente quando essa entrevista estiver acessível, todos esses detalhes já tenham sido solucionados. Ele se chamará “Doomed Pillars”! São quatro faixas nesse material. São elas: “Acausal Dissolution’s Might”, “Cerimonial of Grave” (essa retrata esse momento pandêmico com a morte de milhões, onde o mundo virou um cerimonial de sepulturas a céu aberto e, agora, com uma guerra acontecendo isso está ainda mais presente), “Rites of the Unknown Lord of Violence” e “Inner Time Armageddom”!!! “Doomed Pillars” é Death Metal pestilento, apocalíptico, obscuro e aterrorizante em sua essência, em sua gênese e em sua escuridão.

– Muito obrigado pelo seu tempo, Alex Rocha. Fica aqui registrado o agradecimento de toda a equipe da The Ghost Writer Magazine. O espaço é seu para suas considerações finais…

Alex Rocha – Muito obrigado a todos vocês por tudo! Que todos obtenham sucesso em seus objetivos e que o mundo esteja adaptado a uma nova era de escuridão e desolação! Um grande abraço a todos!

 
Categoria/Category: Entrevistas

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