HEADHUNTER D.C. – Pioneirismo no culto à Morte (Parte II)
Postado em 09/09/2024


Nesta segunda parte da entrevista que realizamos com o HEADHUNTER D.C., partimos do lançamento do seu último álbum de inéditas, “…In Unholy Mourning…” (2012), englobando diversos momentos importantes da sua trajetória até o ano de 2021, que teve como ponto central a disponibilização da coletânea “A Hail to the Ancient Ones…”, que reuniu os mais diversos covers que o grupo registrou durante um amplificado recorte temporal. Então já dá pra notar que, como sempre, estar perto destes caras é uma experiência muito enriquecedora, para qualquer banger que viva com muito entusiasmo o underground nacional. Desta forma, como acreditamos que você, caro leitor, esteja ansioso para a conclusão deste bate papo com Sérgio “Baloff” Borges, após um grande atraso na sua disponibilização, então vamos a ele… 

– Finalmente em 2012 um novo trabalho de inéditas do HEADHUNTER D.C. é disponibilizado. “…In Unholy Mourning…” ganhou uma edição nacional em digipack de luxo, com dois encartes e um patch, algo jamais visto em terras brasileiras. Como você avalia este novo capítulo na carreira da banda?

Sérgio “Baloff” Borges – Com “…In Unholy Mourning…” realmente estávamos entrando num novo ciclo da história da banda, um ciclo cheio de desafios e adaptação às circunstâncias, mas que felizmente rendeu grandes frutos e o período de maior atividade em nossa carreira. Apesar de já ter adquirido alguma experiência também em composição de músicas no “God´s Spreading Cancer…” e no Split com o Sanctifier, dessa vez eu estava sendo desafiado a escrever sozinho um álbum completo. Isso aconteceu devido ao tempo super escasso que o Paulo passou a ter para se dedicar a essa função, por causa dos seus dois empregos como professor de inglês. Desafio aceito, missão cumprida e o meu “bebê demônio” lançado: “…In Unholy Mourning…”. Mas as coisas, obviamente, não foram tão fáceis como possam parecer, afinal de contas eu não era, até então, um full composer como Paulo o é tão bem, e um dos grandes desafios era justamente escrever o álbum sozinho e ainda deixá-lo com a cara e a essência do HEADHUNTER D.C. intactas, sem perder as características próprias alcançadas ao longo dos anos. Felizmente acho que o objetivo foi alcançado e o álbum reflete o meu próprio conceito de Unholy Death Metal da velha escola, puro e verdadeiro como deve ser.

“…In Unholy Mourning…” rendeu uma excelente primeira turnê da banda na Europa, incluindo um show antológico em Portugal, no SWR Barroselas Metalfest XVI, em 24 de abril de 2013, ao lado do Possessed, Pentagram, Belphegor, Cryptopsy, Onslaught e outros. Como foi realizar esta turnê e, principalmente, como foi participar deste enorme festival aqui mencionado?

Sérgio “Baloff” Borges – Sim, entre outros frutos, “…In Unholy Mourning…” nos rendeu nossa tão sonhada primeira turnê europeia, uma experiência incrível pra banda e também pra cada um de nós individualmente. O período que sucedeu o lançamento do álbum em 2012 até 2015-2016 foi o mais ativo em termos de shows em toda nossa história, grande parte deles absolutamente memoráveis. Falando da tour na Europa, nós já vínhamos sendo cobrados nesse sentido há um bom tempo, principalmente pelo nosso tempo de estrada, mas na verdade nunca tivemos essa obsessāo de tocar lá fora a qualquer custo como aconteceu num determinado período entre algumas bandas brasileiras. Quero dizer, precisávamos, primeiro, ter um novo álbum em mãos, de preferência também lançado lá fora, e depois termos ao nosso dispor um mínimo de estrutura para tal, até que rolou o convite do Edu Lane do NervoChaos de fazermos essa tour agenciados pela Roadmaster Booking, tendo sua própria banda como nossa parceira nessa jornada deathmetálica através do velho mundo. A exemplo de vários outros shows brutais, a experiência de tocar no SWR foi incrível, tanto pela estrutura de um grande festival quanto por tocarmos ao lado de tanta banda renomada. Infelizmente perdemos o show do Possessed no dia seguinte ao nosso, pois tivemos que seguir logo cedo para a Espanha onde tocaríamos mais tarde. Esperamos voltar assim que estivermos com o novo álbum em mãos, dessa vez com uma estrutura melhor e abrangendo outros países onde não tocamos em 2013. Trabalharemos duro para atingirmos mais essa meta em nossa jornada anti-trend!

– A Mutilation Records, no ano de 2014, anunciou um lançamento comemorativo, no formato de tributo à banda, contando com dois volumes e várias bandas do cenário da música extrema mundial. Nomes como Malefactor, Embrional, Escarnium, Revel in Flesh, Poisonous e muitas outras estiveram presentes, revisitando diversos clássicos. Como se deu a ideia deste projeto e como foi para vocês receberem este tipo de homenagem? 

Sérgio “Baloff” Borges – A ideia para o tributo ao HEADHUNTER D.C. partiu do próprio Sérgio Tullula, boss da Mutilation Records, e surgiu em uma de minhas visitas à sua loja na Galeria do Rock em São Paulo, quando ele mesmo me falou que já passava da hora da banda receber uma homenagem nesse formato. A partir daí veio a proposta para o lançamento, que a princípio seria em apenas um volume, mas com o interesse de inúmeras bandas em participar do projeto, acabou se tornando um lançamento em dois volumes. Eu mesmo coordenei e produzi o tributo a convite do Tullula, e achei bastante natural que eu tenha sido convidado para esse processo, pois apesar de não se tratar de um lançamento nosso, mas sim uma compilação com outras bandas, cada um dos CDs estaria emanando puro HEADHUNTER D.C. quando estivesse sendo colocado no player ou tendo seu booklet folheado, então nada mais natural que fosse um de nós que estivesse diretamente envolvido nisso. A emoção em ver/ouvir isso se transformando em realidade foi grande, cara, e a honra, maior ainda. É quase indescritível a sensação de ter dois CDs lançados em homenagem e reconhecimento à sua banda, e o que é ainda mais fudido, com tantas versões de suas músicas com uma imensa qualidade, e não estou falando apenas em qualidade de gravação, mas de criatividade e performance também, de versões que nos fazem sentir que foram feitas a partir do mesmo princípio do qual as músicas originais foram criadas: da paixão pela música negra da morte, sem a qual nada do que se é feito soa 100% real. Acho que conseguimos expressar esse sentimento com exatidão através dos textos escritos por mim (no volume 1) e pelo Paulo (no volume 2), através dos quais também contamos um pouco da nossa história sob uma ótica não encontrada nas conhecidas biografias da banda. Foram num total de trinta e quatro bandas em ambos os volumes, incluindo, além das brasileiras, bandas dos EUA, Polônia, Alemanha, Holanda e Chile, cada uma delas passando muita verdade com suas versões, até porque são bandas que possuem um vínculo muito próximo de nós; são bandas irmãs, que possuem ideias e ideais basicamente iguais aos nossos, e isso também pesou bastante na escolha de cada uma delas, independente de serem fãs die hard ou diretamente influenciadas por nós. Se vacilar, rola um volume 3 em breve… (risos)

– Em junho de 2017, o HEADHUNTER D.C., ainda em suporte à “…In Unholy Mourning…”, partiu para uma importante turnê sul-americana. Conte-nos como foi esta experiência, e como foi dividir o palco com seus amigos do Mortem no Peru, na noite de 03 de junho de 2017?

Sérgio “Baloff” Borges – Apesar de menor que a tour de 2007, esse giro nos trouxe excelentes frutos, entre eles a oportunidade de finalmente dividirmos o palco por duas fudidas vezes com as bestas andinas do Mortem, banda a qual já acompanho desde praticamente os seus primórdios e cujo desejo de dividirmos o palco já era compartilhado há algum tempo entre ambas as bandas. Não bastasse termos esse desejo mútuo realizado, tocarmos juntos em sua terra natal, Lima, foi absolutamente sensacional, sendo essa nossa primeira vez na capital peruana. Posso dizer que as jams que fizemos juntos em ambos os shows de Lima e Santiago, com o Nebiros tocando guitarra conosco no cover do Death “Zombie Ritual” e eu cantando com eles seu clássico “Summoned to Hell” (com o qual participamos do CD tributo ao Mortem há alguns anos via Heavier Recs.) foram absolutamente e definitivamente antológicas. Hail The True Mortem!!! Outros pontos marcantes nessa mini tour foi reencontrarmos nosso irmão Ricardo Lucas do Crypts of Eternity zine/productions, responsável por nos levar para Lima, e também dividirmos o palco com nossos velhos aliados chilenos do Ejecutor e Unaussprechlichen Kulten. Altamente e fudidamente memorável!

– Ainda em 2017, fomos todos pegos de surpresa com a saída do guitarrista Paulo Lisboa da line up da banda. Paulo, além de ser um cara extremamente querido por todos, estava no projeto desde a sua fundação, quando ainda se chamava Túmulo. O que houve para que isso tenha ocorrido e como a banda se manteve firme, mesmo depois desta perda?

Sérgio “Baloff” Borges – O Paulo saiu oficialmente da banda em julho de 2017, logo após a mini turnê no Chile e Peru com o Mortem e logo após a banda ter completado 30 anos de existência. Esta notícia caiu como uma bomba em nosso culto e atingiu todos nós em cheio, especialmente falando sobre mim mesmo, já que eu e o Paulo temos uma amizade/parceria muito forte desde o começo do HEADHUNTER D.C., então tem sido muito difícil para mim ter que lidar com sua ausência na banda; você sabe, subir em um palco e tocar sem ele depois de tantos anos juntos se apresentando ao vivo, viajando mundo a fora, ou mesmo compor sem suas opiniões ou não podermos mais contar com seu enorme talento e genialidade dentro da banda… Isso foi muito triste para mim e para todos os outros caras da banda, e mesmo que já estivéssemos de alguma forma preparados para a sua partida, as coisas não foram fáceis para nós desde então. Na verdade, Paulo já estava basicamente afastado das atividades da banda desde algum tempo, tendo inclusive se ausentado em três shows antes de deixar a banda, sendo substituído por Yury Duplat (God Funeral, Old Chaos, ex-Keter) em um show no Brasil, enquanto nos dois últimos shows no Chile tivemos que tocar com apenas uma guitarra porque ele teve que voltar ao Brasil logo após o show de Lima devido ao seu emprego – sem mencionar que ele também não participou do processo de criação do próximo álbum. A razão para isso, segundo ele, estava relacionada à logística, já que ele mora em uma cidade a 350 km de Salvador, e fazer viagens entre as duas cidades mais as turnês estava se tornando cada vez mais difícil para ele com o passar dos anos, então nós não poderíamos fazer nada além de respeitar sua decisão e continuar sem ele. Apesar de tudo, nossa amizade permanece intocável como nos velhos tempos (apesar de não termos mais nos encontrado pessoalmente desde então, até também por conta da pandemia), afinal de contas temos uma amizade/irmandade que transcende o Metal e o underground. Para substituí-lo, convocamos nosso velho amigo e irmão e fã da banda desde início dos 90’s, Tony Assis (Insaintfication, ex-Carnified, Mystifier), que já caminha para o seu quinto ano como guitarrista do HEADHUNTER D.C.. Ao Paulo “Destructor of Heads/Lisbon Tumullus” Lisboa, lhe desejo o melhor em sua vida, sempre!

– Após um salto temporal, chegamos a 2021, e o grupo surpreendeu à todos com o anúncio da coletânea “A Hail to the Ancient Ones…”, lançada no Brasil novamente pela Eternal Hatred Records. O material reúne todas as versões de clássicos do Metal mundial que a banda registrou desde os primórdios da sua carreira. Como vocês chegaram na ideia deste formato para um novo título disponibilizado? Como tem sido a aceitação do mesmo no cenário?

Sérgio “Baloff” Borges – A ideia foi mesmo reunir em um só lançamento todos os covers gravados por nós no período 1995-2019 e que, por sua vez, estavam espalhados em diferentes trabalhos. Pra dar uma breve contextualizada, irei tomar a liberdade e recorrer ao press release do álbum: “‘A Hail to the Ancient Ones…’ é uma compilação em CD que reúne todos os covers já gravados pelo HEADHUNTER D.C. para diferentes álbuns tributo – nacionais e internacionais – e demais lançamentos no período 1996-2019, num total de catorze faixas que sintetizam todo o respeito, admiração e culto à algumas bandas que nos serviram de influência e grandes fontes de inspiração para o desenvolvimento de nossa música e de nossa história. Bandas como Possessed, Sodom, Kreator, Black Sabbath, Mortem, Dorsal Atlântica, Necrovore, Sepultura e Morbid Angel, entre outras, são saudadas com versões próprias colocadas sob perspectivas brutais e apropriadamente ‘headhunterizadas’, características mais do que conhecidas do culto dos caçadores de cabeça da terra sem salvação. Algumas faixas, como covers do Bathory, Iron Maiden e Sanctifier, mantinham-se inéditas em CD até então, mais um grande motivo para adquirir essa obra atemporal de rendição de tributos à grandes clássicos do Metal Extremo e do Metal Pesado em geral. Lançamento em digipack de luxo com dois painéis limitado em trezentas cópias via Eternal Hatred Records – Brasil”. O título é uma alusão à obra de H.P. Lovecraft e seu mito de Cthulhu e a capa, mais uma obra de arte de Mr. Alcides Burn, que já havia assinado a capa de “God’s Spreading Cancer…”, representa bem essa, digamos, comunhão entre a obra lovecraftiana com nossa “poesia necro-herética”.  Coletâneas de bandas geralmente não são muito bem vistas por parte do público, mas por tratar-se de uma compilação de covers que reuniu em um só lançamento todas essas faixas que, como mencionei acima, até então estavam “soltas” em diferentes lançamentos, “A Hail to the Ancient Ones…” foi extremamente bem recebido pelo público e pela imprensa underground, daqui e lá de fora. Até por ter sido um lançamento limitado, quase toda a sua tiragem foi voltada à venda aos fãs, mas os veículos de imprensa que a ele tiveram acesso escreveram excelentes resenhas, assim como os fãs da banda absorveram muito bem o conceito por trás desse lançamento, não confundindo-o como mais um “caça-níqueis” jogado no mercado, até mesmo pela nossa tradição em render homenagens ao longo dos anos às bandas que nos influenciaram e continuam nos influenciando e inspirando. Com o costume que temos em gravar covers, não se espantem se em breve sair um “A Hail to the Ancient Ones…” parte 2 (risos gerais)!!! A propósito, a ideia inicial era disponibilizar não catorze, mas dezoito covers, porém infelizmente quatro deles tiveram que ficar de fora devido ao tempo total da mídia ter sido ultrapassado. As faixas que ficaram de fora foram “Blasphemer” do Sodom, de uma gravação de ensaio de 1987, “Buried Alive” do Venom, que faz parte do tracklist de “Brazilian Deathkut Live Violence…”, “Zombie Ritual” do Death, gravada ao vivo em Fortaleza em 2004 e “The Exorcist” do Possessed, gravada ao vivo em Santiago do Chile em 2007. Como vê, já temos quatro faixas para o volume 2 da coletânea… (risos). 2021 também marcou a entrada do guitarrista Danilo Coimbra (Malefactor, Divine Pain, Born in Black) na banda, que junto com o baixista Stanley Serravalle (Infected Cells), convocado em 2020 para substituir Zulbert Buery (Leprovore, ex-Inoculation), une-se a nós para uma nova era de blasfêmia dos caçadores de cabeça do culto da morte.

– 2022 tem sido um ano bastante movimentado para o HEADHUNTER D.C.! Um novo álbum de inéditas está nos planos para gravação e posterior lançamento. O que você pode nos adiantar sobre ele?

Sérgio “Baloff” Borges – Sim, após um hiato de dez anos sem lançarmos um novo full length, o próximo álbum de estúdio do HEADHUNTER D.C. está cada vez mais perto de se tornar realidade. Temos trabalhado duro em cima do material que dará vida em forma de morte total à nossa próxima oferenda de morte, pecado e suporte à extinção da cristandade. Infelizmente, toda essa demora em seu lançamento foi novamente alheia à nossa vontade, demora pela qual, desde já e mais uma vez, pedimos desculpas aos fãs e demais admiradores da banda, pois comungamos da mesma ansiedade pelo registro do nosso novo material. Embora o álbum já estivesse todo escrito quando da chegada da pandemia, todo esse período de reclusão serviu, também, para que desenvolvêssemos nossos arranjos individuais e demais detalhes para o mesmo de uma forma mais, digamos, introspectiva e esmerada – nada como um pouco de isolamento, misantropia e solidão para a prática da arte do Metal da Morte, não? Mais uma vez fui responsável pela (de)composição do novo trabalho de forma integral, com exceção de apenas uma das músicas que compus em parceria com o ex-guitarrista George Lessa. Nesse ínterim, também escrevi mais duas músicas além das do próximo álbum que possivelmente serão gravadas para um EP comemorativo de trinta e cinco anos da banda. O novo álbum contará com nove músicas inéditas, uma intro, uma outro e um interlúdio instrumental num total de doze ataques profanos de culto da morte e rebelião contra tudo o que é hipocritamente chamado “sagrado”. Alguns novos títulos são: “Unblessed by the Unsacred”, “One Thousand Apocalypses”, “Rise of the Damned” (provável título do álbum), “In Death Metal We Trust”, entre outros. Atualizando a previsão de gravação desse novo material, a ideia é entrarmos em estúdio ainda em 2022 para tê-lo lançado logo no início de 2023. Time shall tell…

– Com o possível retorno dos shows após esta crise pandêmica que estamos vivendo, quais os planos para a nova turnê mundial da banda, em suporte a este vindouro trabalho?

Sérgio “Baloff” Borges – Planos e previsões sāo sempre perigosos quando não se tem algo concreto referente às datas e logística, mas como disse anteriormente, a ideia é cair na estrada novamente de forma sequencial assim que o novo trabalho estiver em mãos e disponibilizado ao público. Com uma possível trégua da pandemia de Covid-19, estamos aos poucos retomando com os shows, e assim espero que o horizonte se abra ainda mais nesse aspecto para que possamos seguir espalhando o culto através das terras. Ainda para antes do lançamento do novo álbum, os planos são de lançarmos mais um álbum ao vivo, gravado em 2021, no “olho do furacão” da pandemia, no Dopesmoke Festival Online em Feira de Santana, Bahia. Será algo como uma marca negra, uma lembrança mórbida desse triste e mortal período da humanidade que infelizmente ceifou e continua ceifando tantas vidas como uma verdadeira hecatombe sobre a Terra registrada em CD pelo HEADHUNTER D.C. contendo o que de melhor sabemos fazer: Death fucking Metal! Ainda não temos um selo nem uma data para o seu lançamento, mas já estamos providenciando isso desde já. Em tempo: o live album se chamará “Pandemic Unredemption – Live at Dopesmoke Festival 2021” e contará com dez faixas, sendo seis do citado festival mais quatro faixas bônus gravadas no Palco do Rock Festival, em Salvador, Bahia, em 2017. Aguardem por mais esse ataque brutal de morte ao vivo!

– Antes de encerrarmos, como sou grande entusiasta do cenário do estado da Bahia, queria muito saber sua impressão sobre a atual situação do mesmo. Você tem acompanhado o surgimento de novas bandas? Como você compara a estrutura atual e mentalidade do headbanger desta atual geração, com a do final dos anos oitenta e início dos anos noventa?

Sérgio “Baloff” Borges – A velha pergunta sobre nossa visão da cena… (risos!). Essa é uma questão cuja resposta pode variar em questão de meses, conforme o desenvolvimento da própria cena e de nossas próprias experiências dentro da mesma. Mas há muitos anos que preciso enxergar essa questão da atual cena numa inevitável comparação com os anos 80 e 90, tanto sob a ótica do headbangerdie hard de Metal quanto também a do “músico” de Metal, ainda que um seja exatamente a extensão do outro. Digo isso (e tão somente por mim apenas, numa ótica totalmente pessoal) porque a visão do deathbanger Sérgio Baloff é intrinsecamente voltada pro lado ideológico da cena, do lado radical e primordial do underground, no qual quantidade jamais foi sinônimo de qualidade, porém hoje vivemos numa época em que a globalização deu uma visibilidade e acessibilidade ao Metal nunca antes imaginadas, e essa nova realidade sempre terá os dois lados da moeda. Hoje em dia o público de Metal é inevitavelmente maior que o de vinte e cinco, trinta anos atrás, e com ele veio um leque maior de fontes de informação e acessibilidade – ainda que nem todos consigam absorver essa que, a princípio, seria uma vantagem em relação às gerações anteriores –, porém, em contrapartida e desproporcionalmente a essa equação, o que víamos na cena pré-pandemia eram os shows cada vez mais vazios (pelo menos essa era uma reclamação geral ouvida aqui no país), o que significa que trata-se de uma questão mais complicada do que se imagina. Essa questão do público também se correlaciona com a questão da estrutura física da cena, pois com um bom público comparecendo aos shows os produtores se estruturarão mais e mais para eventos de maior qualidade, e assim bandas e público saem ganhando. Como vê, não se trata de um assunto tão simples de se abordar conforme a cena vai crescendo de forma desenfreada com suas consequências positivas e negativas, no qual até mesmo a tese sobre uma questão cultural poderia ser inserida, mas o mais importante nisso tudo é que cada um que se diz fazer (e que faça realmente) parte da cena cumpra o seu papel de forma honesta e real para que um dia possamos ter uma cena realmente digna para todos os envolvidos. E àqueles do tipo “não faço parte de nenhuma cena” ou “não existe nenhuma cena atualmente”, é melhor mesmo que fiquem em casa dando continuidade às suas vidinhas virtuais! Falando agora especificamente sobre a cena baiana, eu também sempre fui um entusiasta do nosso cenário local, desde seus primórdios, da época dos pioneiros Zona Abissal e Krânio Metálico, até os dias de hoje, mas sempre fui muito justo sobre o que tem rolado por aqui ao longo dos anos, quero dizer, o que é digno de elogios eu exalto e dou o máximo de suporte, mas o que é lixo eu meto o pau também – e nem estou falando aqui apenas de bandas, mas principalmente de atitudes. Lembro-me, por exemplo, de uma época no começo dos 2000 quando uma parte vergonhosa da cena local usava da violência física e da ignorância para justificar sua incapacidade de fazer parte de um movimento de contracultura com o mínimo de inteligência, absorção de ideias e representatividade em uma causa, uma ideologia (o chamado radicalismo burro, inconsciente e inconsequente), e felizmente acho que nos livramos dessa mácula terrível do underground baiano. Falando sobre bandas, tenho acompanhado o surgimento e desenvolvimento de alguns grupos realmente relevantes daqui do estado, seja pela qualidade de seu trabalho, pela seriedade com que desenvolvem o que fazem e/ou pela sua postura perante os aspectos mencionados aqui, sejam bandas mais novas e outras mais antigas, entre as quais eu poderia citar: Poisonous, Malefactor, Papa Necrose, Rotten Broth, Heretic Execution, Behavior, Eternal Sacrifice, The Cross, Escarnium, Bastard, Inside Hatred, Indominus, Inner Call, God Funeral, Suffocation of Soul, Benemmerinnen, Scrupulous, Insaintfication, Leprovore, Ad Baculum entre outras, todas de alto poder de destruição em seus respectivos estilos. Como pode ver, a Bahia continua a fazer os separatistas, invejosos e preconceituosos Brasil afora engolirem a seco a bestialidade do Metal baiano!

– Mais uma vez, é uma satisfação enorme entrevistá-lo, Sérgio Baloff. Toda a equipe de redação deseja vida longa ao HEADHUNTER D.C. e que os próximos anos sejam de muito trabalho e grandes lançamentos. É chegada a hora das suas considerações finais…   

Sérgio “Baloff” Borges – O prazer mais uma vez foi todo meu, assim como mais uma vez sou muito agradecido a você e sua equipe pelo grande suporte dado ao HEADHUNTER D.C. ao longo dos anos, tanto com o selo quanto, agora, com a The Ghost Writer Magazine, e esse tipo de suporte, sincero e honesto, é essencial para o desenvolvimento sadio da nossa cena de Metal Extremo brasileiro. Vida longa para vocês também! Estamos completando, agora em 2022, trinta e cinco anos de ininterruptas atividades dentro do Metal underground, uma verdadeira batalha de três décadas e meia batizada em sangue, suor e lágrimas em prol dos nossos ideais, então esse prazer se estende, também, por estarmos compartilhando desse momento mais que especial em nossa longa jornada com vocês aqui. Apesar desse momento um tanto tendencioso voltado ao Death Metal novamente (o que nos leva a lembrar de outros períodos em que várias bandas se meteram com o gênero por pura moda), o Metal da Morte continua significando e representando o mesmo para nós como há trinta e cinco anos, mas agora de forma muito mais madura, consciente e ainda mais comprometida com sua verdadeira essência, e essa jornada, certamente, não para por aqui. Nós cavalgamos nas asas da resistência! Um grande hail a todos, aguardem pelo novo álbum e mantenham-se cada vez mais distantes de Deu$! In Death we Cult! HEADHUNTER D.C. 1987-2022: 35 anos! 666.

 
Categoria/Category: Entrevistas

TOP